Nos bastidores da política nacional existe uma percepção de que é inevitável que a base política do governo rache com vistas à sucessão de 2014.
Tal percepção fundamenta-se no fato de que os aliados estão insatisfeitos com o Planalto.
Pessoalmente, acredito que o racha é evitável, ainda que o acúmulo de insatisfações possa afetar as composições para 2014. A origem de tanta insatisfação reside em alguns vetores.
O primeiro deles centra-se na distribuição de cargos no governo, que não é balanceada. O segundo se refere ao processo de liberação de verbas.
O terceiro decorre da falta de atenção do Palácio para com os políticos, ao contrário do que acontecia na época de Lula. O quarto reside na difícil comunicação entre os políticos e os formadores de opinião com o ministério.
A obtenção de audiências é difícil e o retorno de ligações é complicado. Há líderes da base que não conseguem falar com ministros e tem ministro que acumula mais de 500 pedidos de audiência sem resposta.
O quinto vetor está no fato de que aliados de espécies diferentes tendem a se estranhar. Aparentemente, o Palácio não se importa com isso. Como se os sentimentos e as reclamações fossem uma espécie de choro destinado a obter compensações.
É verdade. O político, mesmo bem atendido, sempre se mostrará insatisfeito. Afinal, a sede de poder é insaciável. Quanto mais, melhor. Portanto, seria mais prudente manter uma política de boa vizinhança com os aliados.
Porém, a dinâmica instalada sinaliza para um racha em 2014, ainda que este seja evitável. E quais seriam os cenários do racha? Cito apenas dois.
O PSB e o PDT, por exemplo, sairiam da base e lançariam Eduardo Campos na disputa pela Presidência com o apoio, talvez, de Aécio Neves. Ambos, para quem não sabe, têm uma relação íntima na política, inclusive com apoios estratégicos recíprocos em outras épocas.
Aparentemente, nas atuais circunstâncias, apenas a candidatura de Lula poderia impedir Eduardo Campos de sair candidato.
Outro cenário de racha pode ocorrer com o PMDB, cujas lideranças já anunciaram, publicamente, que o partido está sub-representado no governo e que poderá ter candidato presidencial em 2014. Não acredito.
Penso que o PMDB deve marchar com o PT, caso fique assegurada a vaga de vice-presidente e caso a presidente Dilma esteja com a popularidade elevada.
O cenário é o de unidade da base. Seja com Dilma ou Lula. Com Lula, a base política estaria unida e feliz. Com Dilma, ela pode ficar unida na dependência de diálogos e de compromissos.
Isso posto, qual a consequência da insatisfação dos aliados com o governo? A primeira é a ampliação do conflito, favorecendo o denuncismo de escândalos, tal como ocorreu em 2011.
A segunda é a sabotagem nas votações de interesse do governo. Por fim, o apoio a iniciativas da oposição, por meio de convocações e audiências públicas. Um governo exitoso deve operar tanto econômica quanto politicamente de forma competente.
Quanto mais popular for, maior deve ser a interação com os formadores de opinião, tendo em vista a preservação do ciclo virtuoso. A falta de uma maior sensibilidade política pode, em um dado momento, fazer falta.
Fonte: Brasil Econômico, 17/01/2012
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