A desindustrialização da economia brasileira prossegue em ritmo acelerado. As ameaças estavam antes na adversa configuração de políticas macroeconômicas. O ininterrupto crescimento dos gastos públicos trouxe impostos excessivos, juros elevados e taxa de câmbio sobrevalorizada. Marcos regulatórios inadequados trouxeram gargalos na infraestrutura. Décadas de descaso com a educação resultaram numa força de trabalho com pouca escolaridade e baixa produtividade, reduzindo também a competitividade da indústria brasileira.
A boa notícia é que o aperfeiçoamento do marco regulatório e a criação de políticas públicas para democratizar o acesso à educação deflagraram um tsunami de investimentos no setor. Uma verdadeira revolução que promete transformar o país pela educação. Mas a má notícia é que o parque industrial brasileiro sofre novas ameaças de natureza inteiramente distinta. Trata-se de um esforço darwiniano de adaptação de nossas próprias empresas aos desafios da globalização em meio a esta persistente e perversa configuração do macroambiente.
A desindustrialização não se limita mais às empresas enfraquecidas que estão sendo abatidas pela maior competitividade dos produtos importados. Há também vítimas da desarticulação das cadeias produtivas internas. Empresas vencedoras que se integram às mais eficientes cadeias produtivas globalizadas abandonam fornecedores locais de máquinas e equipamentos, matérias-primas e insumos industriais. Importavam em um primeiro momento apenas bens de capital para suas instalações industriais. Mas foram empurradas pela maior competitividade dos asiáticos para a importação de insumos, semimanufaturados e até mesmo produtos finais.
Em busca de vantagens competitivas, tiveram de abandonar cadeias produtivas locais, integrando-se às globais. Em vez de se chocarem com a produtividade asiática, embutiram-na em seus produtos finais. Usam sua inteligência de negócios, suas marcas com boa penetração e suas redes de distribuição para atender o consumidor brasileiro. Pena que, pela baixa qualidade de nossas políticas, condenamos alguns à morte e outros à abertura de fábricas no exterior, quando poderíamos e deveríamos nos lançar todos juntos, integrados e mais eficientes, às correntes globais de comércio.
Fonte: O Globo, 2/6/2014
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