Por 11 votos a um, o Fed, banco da Reserva Federal americano, decidiu na quarta feira manter e, inclusive, se for preciso, aumentar as megacompras de títulos da ordem de US$85 bilhões por mês.
O Fed vem fazendo tais intervenções no mercado para manter taxas de juros “excepcionalmente baixas” desde que anunciou o QE3, seu mais forte programa de afrouxamento monetário.
O QE3 é o terceiro esforço programado de uma série iniciada ainda ao fim de 2008 para impedir que a economia dos EUA resvalasse para uma grande deflação de preços impondo piores consequências sobre a renda e o emprego nos EUA.
A decisão do Fed não altera significativamente o panorama de enorme liquidez que domina a cena monetária atual, embora traga, como elemento novo, a declaração de que a instituição está preparada para aumentar a aposta nesse programa de injetar dinheiro à vontade pela compra de títulos, especialmente os mais longos, de 10 anos de prazo, no intuito de manter muito baixa a taxa de juros para investimentos na economia.
Os críticos, no entanto, entre os quais me alinho, consideram que esse tipo de intervenção radical do Fed, repetida mensalmente, traz crescentes distorções para os mercados de ativos em geral, começando por penalizar os detentores de poupanças, cujas remunerações mal cobrem a inflação projetada.
A visão crítica do QE3 admite que seus efeitos negativos vão mais longe, por estarem propiciando um inchaço nos preços dos ativos de risco, a começar os de commodities minerais e agrícolas, e também em algumas bolsas de ações, como a americana. Mas o defeito mais grave do programa é sua imitação mundo afora.
O Banco do Japão também acaba de anunciar que pretende duplicar sua base monetária, injetando alguns trilhões de ienes nos próximos dois anos. E o Banco Central Europeu cortou ontem sua taxa básica para míseros 0,5% ao ano.
O estopim da decisão do Fed vem, segundo deixou entrever a Ata da última reunião, pelos resultados fracos da demanda doméstica. A geração de novos empregos ficou em 119 mil em março, bem abaixo do esperado.
E os dados de consumo, de procura por bens duráveis e novas encomendas estão todos abaixo do esperado. A inflação, projetada em 1% neste ano, também é mais baixa que a meta.
De fato, o Fed luta contra sua própria ignorância, pois há muito se esgotou o arsenal de políticas de estímulo, diante de um problema teimoso, que é o de lidar com um valor insuportavelmente alto de dívidas acumuladas pelo governo e pelas famílias.
Além disso, pelo peso da economia americana no mundo, a solução não está dentro tanto quanto fora das suas fronteiras. A China e outros emergentes teriam que acumular menos reservas, consumir mais dos americanos. Esse movimento reverso parece estar começando a ocorrer pelo ajuste mais rápido da moeda chinesa nas semanas recentes.
A China está deixando que seu renimbi se valorize mais acentuadamente. As mercadorias e a mão de obra chineses ficam mais caras (menos baratas) em relação aos americanos e europeus ou japoneses. O PIB chinês vai desacelerar.
Enquanto isso, a indústria brasileira fica cada vez menos competitiva. E o Brasil volta a ser um grande empório importador.
Fonte: Brasil Econômico, 03/05/2013
Penalizar os poupadores é bom, pois o objetivo é consumir.
E qualquer medida econômica que se implante tem efeitos colaterais negativos.
HS.