Até a onda de protestos pós-eleitorais no Irã em 2009, Mohamad Nourizad era um defensor do Líder Supremo e contrário aos reformistas do país. A brutal repressão de manifestantes e as detenções em larga escala que se seguiram, no entanto, levaram Nourizad a escrever abertamente cartas ao Líder Supremo, o que resultou em sua própria prisão, apesar de suas impecáveis credenciais revolucionárias e sua antiga lealdade à revolução como jornalista e cineasta.
A prisão só serviu para abrir ainda mais os olhos de Nourizad para a escala da mais absoluta tirania e dos crimes cometidos contra os melhores filhos e filhas do Irã. No início de sua prisão, quando lhe foi dada a rara oportunidade de entrar em contato com sua família, ele disse: “Não importa quanto tempo eu fique preso, o que importa é se vou deixar esse lugar com a minha cabeça erguida ou não”. Determinado a se redimir por seu passado de apoio a um Estado tirânico, Nourizad tem, efetivamente, mantido a cabeça erguida. Ele não apenas tem resistido a todas as pressões contra si próprio, como também vem descrevendo, desafiadoramente, tudo o que se passa dentro das prisões do Irã, e contando ao mundo exterior as histórias de outros prisioneiros e sua resistência épica. Em uma série de cartas chamada “Flores e Arame Farpado”, Nourizad conta as injustiças das “flores” do Irã encarceradas por um inferno ditatorial corrupto e determinado a manter as rédeas do poder a qualquer custo e por qualquer meio.
Em sua última carta, Nourizad descreve o tratamento dado ao líder estudantil e ativista Abdollah Momeni, condenado a nove anos de prisão.
“Querido Deus, nossos homens de segurança têm absolvido a SAVAK* do Xá, comparado ao que eles têm feito para Abdollah Momeni. Eles têm insultado a sua mãe, a mãe de um mártir de guerra, com palavrões inomináveis, para obrigá-lo a confessar coisas que ele não fez. Deus, onde você estava quando Abdollah repetidamente perdeu a consciência, enquanto era espancado várias vezes por seus interrogadores, e sua honra profanada pelas vulgaridades que gritavam contra sua família? Eles empurraram a cabeça de Abdollah dentro da privada e ameaçaram estuprá-lo com uma vara, dizendo: “Nem mesmo o melhor dos carpinteiros será capaz de tirar isto de dentro de você”, a fim de humilhá-lo.
Caro Senhor, Abdollah é um muçulmano educado, dedicado à glória de seu país e avesso à injustiça e à tirania. Ele é prisioneiro daqueles que lhe dizem: “Por que você se opõe às nossas ações equivocadas? Por que expor nossa corrupção? Por que você quer acabar com nossos monopólios? O que você acha que o presidente e seus assessores fazem? Por que você interfere no estrangulamento da economia pela Guarda Revolucionária? Por que você critica o clero que se envolve em tudo, mas que não se responsabiliza por ninguém? O que você quer dizer com estarmos fazendo as pessoas desprezarem o Islã em nome do próprio Islã? Por que você diz que a noite vai acabar? Você acha que existe uma aurora vindo por aí?”.
Nourizad termina por elevar o espírito de todos aqueles que continuam lutando pela liberdade no Irã:
“Para vocês, desconhecidas, mas verdadeiras, crianças do Irã, eu digo: fiquem alertas e tenham certeza de que a alvorada ainda respira e está viva, assim como você, e assim como a liberdade. Salve a liberdade; salve o bom Deus”.
*Antiga polícia secreta iraniana (N. do T.)
Publicado no blog de Potkin Azarmehr
Tradução: Cristina Camargo
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