A primeira semana do governo Dilma revela que os problemas políticos da sua gestão virão dos aliados e não da oposição. Desidratada, sem proposta e ainda atordoada por mais uma derrota, a oposição virou “café com leite” de brincadeira de oposição. Seu caminho será o de tentar explorar as dissidências de uma base política grande, ideologicamente diversa, programaticamente débil e malconstruída.
Pelos sinais do início do governo, não faltarão oportunidades para crises. Repercutiu muito mal dentro da legenda a primeira reunião de Coordenação Política com a presidente. As fotos estampadas nos jornais mostravam Dilma cercada de ministros petistas e nenhum do PMDB. Apenas Michel Temer aparecia na foto.
Mas não como representante da legenda, e sim como vice-presidente.
O mesmo se deu com a reunião sobre erradicação da pobreza, tema -evidentemente – de natureza estratégica. Lá não estava Moreira Franco, titular da Secretaria de Assuntos Estratégicos.
Além disso, como se sabe, o PMDB não está satisfeito com o espaço que lhe foi reservado na equipe ministerial e deseja obter mais cargos no segundo escalão. Nesse ponto reside a má-construção da coalizão.
Por princípios, sabemos que nenhuma coalizão tende a representar – de forma fidedigna – a sua imagem no ministério. Sempre existem arestas e insatisfações que estão relacionadas à natureza morfológica de nossos partidos.
Porém, na construção de um ministério, o papel do núcleo duro do poder é minimizar as insatisfações e sinalizar que exigirá fidelidade absoluta de quem foi atendido.
A montagem do primeiro ministério Dilma apresenta graves distorções que resultam dos seguintes fatores: diálogo inconsistente entre o PT e o PMDB; visão equivocada de que tudo vai ser resolvido na distribuição de cargos; e de que o tempo cura as feridas.
Isto posto, o que teremos pela frente? De início, a questão do salário mínimo já foi escolhida como campo de retaliação. O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ameaça apresentar uma emenda sugerindo o valor de R$ 560 em substituição aos R$ 540 propostos pelo governo.
Vale dizer que o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), disse que a iniciativa de Cunha não representa uma posição oficial do partido. Porém, todos em Brasília sabem do peso de Cunha nas articulações do partido.
Outra linha de atuação da estratégia peemedebista pode passar pela escolha do novo presidente da Câmara dos Deputados. Marco Maia (PT) conta com o apoio de Alves (PMDB), da oposição e de outros partidos da base.
Porém, Aldo Rabelo (PCdoB) e Sandro Mabel (PR) podem entrar na disputa. O favoritismo de Maia parece assegurado. Porém, o clima pode favorecer à novas negociações e novas condições para o apoio a Maia.
O resumo da ópera é o seguinte: o principal parceiro do PT no governo Dilma não está satisfeito, e isso não é um bom sinal para a agenda política e legislativa.
Fonte: Brasil Econômico, 11/01/2011
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