Melhor seria dar a questão por encerrada e só voltar a ela depois que o Cade, ali pelo final de junho ou início de julho, expedisse a decisão definitiva sobre a fusão da Perdigão com a Sadia.
Mas, diante do estrago que o parecer divulgado pelo órgão na última segunda-feira provocou no preço das ações da companhia, é impossível não tocar mais uma vez no assunto.
Mesmo porque, ele é grave e diz respeito, de forma direta, a quase 40 mil acionistas da BRFoods – divididos entre pessoas físicas, jurídicas e investidores institucionais. Nesse último grupo encontram-se fundos de pensão do Brasil e do exterior, o que eleva a quantidade de afetados pela medida a algumas centenas de milhares.
Juntas, essas pessoas viram seu patrimônio minguar R$ 2,5 bilhões em menos de 48 horas – período em que o valor patrimonial da BRFoods caiu quase 9%. É dinheiro que virou fumaça ao sabor de uma decisão que, vista com atenção, não faz o menor sentido.
É provável que os procuradores do Cade não pensaram que atingiriam tanta gente com seu documento anacrônico. Os argumentos contidos no texto, além de demonstrar uma visão pueril do significado da concorrência no mundo atual, lembram uma visão marcada por uma ideologia que parecia esquecida no passado.
Antes da queda do Muro de Berlim, muita gente via as grandes empresas como vampiros sanguinários dispostos a extrair da mais-valia junto com o sangue do sofrido povo brasileiro.
(A frase soou antiga? Foi de propósito). Hoje, felizmente, eles são poucos. Infelizmente, alguns ainda estão em lugares de onde podem causar danos consideráveis à economia.
Antes de prosseguir, convém deixar claro que, na minha opinião, o papel da autoridade da concorrência num país moderno é fundamental.
Ela deve, em primeiro lugar, zelar para que o ambiente estimule o surgimento de novas empresas e equalize as condições de competição entre elas – impedindo, por exemplo, que os maiores e mais antigos impeçam com práticas desleais que os negócios nascentes surjam e cresçam.
Essa, no entanto, não parece ser a preocupação do Cade. A BRFoods faturou US$ 12,6 bilhões no ano passado. Ela tem entre seus concorrentes empresas como as americanas Tyson (US$ 28,4 bi) e Smithfield (US$ 11,2 bi).
Unidas, Sadia e Perdigão têm muito mais chances de enfrentar esses competidores do que teriam separadas. O Brasil vem se esforçando para ter empresas e marcas em condições de brigar no mercado mundial.
O jogo é pesado e dificílimo – e tem muita gente que ficaria feliz com o fracasso de nossas empresas. Os concorrentes da BRFoods encontraram dentro do Brasil seus maiores aliados: os procuradores do Cade que assinaram o parecer. É triste, mas é a mais pura verdade.
Fonte: Brasil Econômico, 12/05/2011
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