Aos 24 anos, ela é a responsável pela única escola acessível de seu bairro, que já assiste mais de 1200 crianças. Jornada contra as tradições da família e do país começou há 12 anos
No aglomerado de casas na favela de Baldia Town of Mawach Goth, no Paquistão, os moradores acreditam que uma jovem mulher de 20 e poucos anos tem o potencial de abrir o caminho para o seu futuro. Neste bairro, onde há uma década a educação era considerada inútil, está instalado agora um edifício onde mais de 1.200 crianças recebem educação formal e profissional de 25 educadores voluntários em 11 quartos espaçosos. Os moradores da região sabem muito bem quem é a responsável pela mudança repentina: Humaira Bachal, paquistanesa de 24 anos e que há mais de 12 luta pelos direitos das mulheres à educação.
A jornada de Humaira começou em 2001, quando junto com sua irmã e três amigos começou a dar aulas para crianças da sua vizinhança em sua casa. Naquela época, Humaira já enfrentava forte resistência da família quando o assunto era sua educação superior. A paquistanesa cresceu no sistema feudal de Tando Hafiz Shah, no distrito de Thatta. Depois, ela e sua família se mudaram para Karachi e se estabeleceram em Mawach Goth, mas as tradições familiares continuaram as mesmas.
O lugar onde moram agora compreende diferentes comunidades e culturas, mas as crenças e métodos de vida não diferem muito da área rural, por exemplo: “Sair na rua para as meninas é considerado um tabu até mesmo se for para ir à escola. A única unidade de educação pública fica num lugar inacessível e os pais não querem gastar dinheiro com a educação de seus filhos”, diz a jovem para o jornal “The Express Tribune”.
Humaira reuniu coragem e pegou para si a responsabilidade de educar outras meninas. Um incidente em sua família aumentou sua determinação: ela testemunhou a trágica morte do filho de seu primo, de apenas oito meses. “A criança ficou azul de um dia para o outro e todo mundo acreditava que a mãe o havia matado. Ela tinha dado à criança um xarope para combater uma febre que estava vencido há dois anos porque não sabia ler e, consequentemente, não olhou para o rótulo”, conta.
Em 2004, a casa de Humaira começou a ficar pequena e ela procurou um lugar maior para dar aulas: “Foi certamente estranho para os mais velhos que uma menina de 15 anos estava pedindo-lhes um lugar para educar os outros”, relembra. Uma casa de dois quartos foi alugada com o dinheiro de Humaira e dos outros professores voluntários. A situação mudou em 2007, quando a ONG Shirkat Gah tomou conhecimento da situação e passou a ajudar. “A escola conseguiu sobreviver devido aos livros recolhidos de escolas públicas em áreas próximas. Nós também organizamos campanhas e batemos de porta em porta para aconselhar os pais. Algumas pessoas ficaram tão enfurecidas que atiraram pedras na nossa escola”, conta a paquistanesa.
Parece que sua campanha particular tem dado certo. Assim como Malala Yousafzai, jovem conhecida no mundo inteiro, vítima de uma tentativa de assassinato por lutar pelos direitos das mulheres à educação, Humaira Bachal é hoje uma defensora global dos direito das mulheres no Paquistão. Em entrevista ao site da emissora de rádio norte-americana NPR, ela disse que não tem medo de sofrer retaliações como a compatriota: “Não é apenas uma Malala ou uma Bachal que levantou a voz para mudar esta situação. Há um monte de outras meninas que estão tentando mudar as coisas. Mesmo que eles sejam 100 Humairas, nunca serão capazes de nos parar”. Sua luta ficou ainda mais conhecida após a divulgação do curta-metragem “Humaira: The Dream Catcher”, dirigido pela premiada diretora paquistanesa Sharmeen Obaid-Chinoy e que conta um pouco de sua jornada.
Mesmo já feito tanto, Humaira não prentende parar: o próximo passo da paquistanesa é desenvolver projetos de educação nas 114 favelas que ficam próximas do bairro onde mora. Alguém duvida que ela chega lá?
Fonte: Marie Claire
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