Indicadores antecedentes avaliados por especialistas apontam recuo no consumo de energia elétrica em julho, o primeiro registrado neste ano. O efeito é consequência principalmente da queda da atividade industrial e foi agravado pela Copa do Mundo, com o menor número de dias úteis. O dado oficial será divulgado até amanhã pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em julho, pela primeira vez no ano, a energia gerada ficou abaixo do registrado no mesmo mês de 2013: 57.686 Megawatts médios (MW médios), 0,45% abaixo dos 57.949 MW médios gerados em 2013. Em janeiro, a geração total foi 10,6% superior à do ano passado. A geração de energia do Sistema Interligado Nacional, segundo técnicos, costuma acompanhar o ritmo de consumo.
De acordo com a Secretaria de Energia de São Paulo, maior parque industrial do país, julho apresentou o nível de consumo de energia mais baixo no estado nos últimos dez anos. Frente ao ano passado, foi 13% menor.
Em junho, quando a Copa já havia começado, o volume de energia consumido no país foi apenas 0,1% acima do registrado em junho de 2013. Naquele mês, o consumo industrial já apresentava queda de 4,9% no consumo.
A crise de algumas das principais indústrias consumidoras de energia elétrica também se agravou em julho. A Associação Brasileira do Alumínio, que segundo a EPE vem ajudando a reduzir o consumo de eletricidade, viu sua produção recuar 36,5% em julho, na comparação com o mesmo mês do ano passado. Em junho, a queda era menor, de 31,7%.
— O consumo de energia está caindo porque a economia como um todo caiu — disse Marco Antônio Mroz, secretário de Energia de São Paulo.
O diretor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE/USP), Ildo Sauer, destaca que os resultados ruins no setor de energia apontam uma queda na economia, especialmente no setor industrial. Ele destaca que o alto preço da energia também incentiva grandes consumidores a reduzir sua produção e revender energia:
— Fica demonstrado que o consumo está caindo. As razões disso são a crise econômica, sobretudo a crise profunda por que passa a indústria, e um autorracionamento incentivado pelo governo com uma perversidade nos preços da energia.
Lobão critica analistas
Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, creditou o recuo no consumo de energia mais ao desaquecimento da economia do que ao preço pago pelos consumidores, já que a decisão de não consumir é restrita.
— Não acho que o efeito preço seja o fator preponderante para explicar a queda do consumo de energia, ainda que a gente saiba que o aumento de preço no mercado livre criou espaço para arbitragens. Minha tendência é achar que essa queda se dá pelo fato de a economia estar mais fraca e a indústria, mais do que estagnada, encolhendo — disse Zeina.
Sauer observou que, ironicamente, os números de queda no consumo e desempenho ruim da economia têm como efeito positivo a redução do risco de racionamento e uma folga maior para as geradoras, no momento em que os reservatórios das hidrelétricas estão muito secos e as termelétricas a todo vapor.
— Ironicamente, a crise da indústria está reduzindo o vexame elétrico, e o risco de racionamento cai porque a indústria está caindo — afirmou Sauer.
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, criticou na quarta-feira analistas do setor elétrico que apontaram o risco de um racionamento neste ano e, segundo ele, “fizeram terrorismo” ao prever impacto de alta nas tarifas de até 40% por causa das operações financeiras para suprir déficits de distribuidoras.
Fonte: O Globo.
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