O termo interesse no Brasil apresenta uma noção pejorativa, ao contrário do que ocorre em outros idiomas e países, notadamente nos anglo-saxãos. Ao demonstrar lá seu interesse por algo, por alguém ou por uma dada atitude, uma pessoa não transmite ser ‘interesseira’ (egoísta), pois, ao contrário da associação usualmente feita aqui, nos países anglo-saxãos se relaciona intuitivamente o substantivo interesse ao adjetivo interessante. Como é subjetiva a avaliação do que é ‘interessante’, além de esse julgamento depender de um contexto, a definição de interesses é apenas um estágio anterior à tomada de uma decisão pessoal. Quem apresenta uma certa atitude teve o interesse em se comportar de certa maneira e deve em princípio estar disposto a usufruir os benefícios ou a arcar com o ônus de sua decisão.
Interesses são formulados no momento presente diante da expectativa da ocorrência de eventos futuros, cuja ocorrência não pode ser prevista com exatidão e nem controlada perfeitamente, o que explica a dificuldade de avaliar se determinado interesse está ‘certo’ ou ‘errado’. A expectativa do que pode vir a ocorrer impacta o interesse em ter algo ou em pensar que será conveniente lutar por algo, tal como, por exemplo, um valor ‘aceitável’ para taxas de juros, que, não por acaso, são “interest rates” em inglês.
Em qualquer país, o nível da taxa de juros no mercado financeiro e da rentabilidade no setor produtivo resulta de avaliações feitas por cada investidor sobre sua necessidade de remunerar o seu capital e sobre sua opinião de que tal remuneração será adequada, até para compensar eventuais perdas, especialmente aquelas decorrentes de tributos e variações cambiais. Conseqüentemente, a necessidade humana básica de remunerar o capital não explica, isoladamente, o nível das taxas de juros, pela influência da opinião sobre o que pode ocorrer, como exposto com o ‘Modelo Interesse-Expectativa’, que propus no livro “Crise e Prosperidade Comercial, Financeira e Política”.
A forma de atender às necessidades decorre de opiniões formadas a partir de informações obtidas na interação com terceiros ou ao ter contato com informações divulgadas pelos meios de comunicação. Incerteza e pânico colaboram, sim, para manter ou elevar as taxas de juros acima do que seria necessário para um investidor e suportável para uma sociedade.
Contribui tanto para a queda das taxas de juros no mercado financeiro quanto para a aceitação de uma rentabilidade menor ao decidir um investimento, a existência de condições favoráveis para a atividade empresarial, quando o aumento da atividade econômica não fomenta a inflação e evita crises que comprometeriam o legítimo retorno do investimento.
Além do poder público implementar procedimentos que não constranjam o empreendedorismo formal, a população precisa aprovar, de modo incontestável, o interesse dos empreendedores em implementar negócios variados e divulgar suas realizações com alarde. O aumento da competição entre negócios bem-sucedidos fomenta a queda de preços e desafia os empresários a se superarem, ofertando para mais pessoas, bens e serviços ainda melhores e mais baratos, devido aos ganhos em escala.
Enquanto um concorrente luta para superar seus adversários durante uma competição, um invejoso alimenta sentimentos destrutivos em relação a todos que possuem características, qualidades ou posses que o invejoso estaria interessado em ter, mas julga que tal conquista seria impossível.
Por sentir sua auto-estima reduzida, o invejoso articula retaliações incríveis, ocultas e duradouras, prejudiciais aos invejados, sem que necessariamente o sonhado objeto de inveja possa ir para os invejosos, inclusive porque, em muitos casos, uma transferência é simplesmente impossível, como nos casos de feições, conhecimento e garra empresarial. Ademais, por falta de capacidade ou motivação para transformar a inveja numa saudável competição, os invejosos depreciam o trabalho e as dificuldades dos invejados.
Se, devido também ao interesse em cultivar a inveja, uma sociedade não legitimar a atitude dinâmica daqueles que tomam iniciativas, não premiar o mérito de forma enfática e, pior, não incentivar o lucro em negócios lícitos, neste cenário poderão faltar investimentos e ocorrer uma subseqüente atrofia da atividade econômica, com reflexos adversos nos níveis de inflação, juros e emprego, impedindo uma admirável e ‘invejável’ prosperidade que deveria ser de interesse de todos.
Este artigo foi originalmente publicado na seção Opinião do Jornal do Commercio, edição de 22/12/2005
No Comment! Be the first one.