Um dos mais antigos jornais franceses, conhecido por revelar escândalos do governo, alega estar na “mira” do presidente Nicolas Sarkozy. A revelação do “Le Canard Enchaîné” não é a primeira denúncia de supostas tentativas do governo francês de investigar jornalistas e veículos. Confira a matéria publicada no jornal “O Globo” de 05 de novembro:
“A relação do presidente Nicolas Sarkozy com jornalistas, que não era boa, sofreu um golpe duro. O jornal satírico “Le Canard Enchaîné” revelou na sua edição de quarta-feira que o presidente da França está por trás da criação no Palácio do Eliseu de um “núcleo” para espionar jornalistas que investigam questões ditas sensíveis. Não é sátira: o jornal, um dos mais antigos do país, é famoso por suas reportagens investigativas, que já detonaram vários escândalos.
E o diretor de um órgão de inteligência francês que estaria a cargo da espionagem, assim como o chefe da Polícia Nacional, foram questionados ontem a portas fechadas pelo Parlamento, informou o “Le Monde”.
A notícia estourou como uma bomba. Nas últimas semanas, jornalistas de três publicações — “Le Monde”, a revista “Point” e o site Médiapart — tiveram os computadores roubados. Todos trabalhavam em reportagens sobre o Caso Bettencourt.
O mordomo de Liliane Bettencourt, dona da gigante de cosméticos L’Oréal, gravou durante meses conversas entre a bilionária e seu gestor de fortunas. Trechos das gravações vazaram, mostrando como um grande grupo econômico se relaciona com o poder político. Bettencourt teria distribuído envelopes com milhares de euros aos políticos do UMP, o partido de Sarkozy, denunciaram empregados de sua casa.
Um dos ministros mais poderosos do governo, Eric Woerth, que comanda a reforma da aposentadoria, é citado nas gravações.
Ele conseguiu empregar a mulher na empresa da bilionária, que escondia dinheiro do fisco numa conta na Suíça. O Palácio do Eliseu, segundo a imprensa, queria saber quem estava por trás do vazamento.
“Le Monde” reage a tentativa de acesso a telefones A espionagem de jornalistas estaria a cargo de Bernard Squarcini, chefe da Direção Central de Informação Interior (DCRI), órgão de inteligência.
O governo nega. O Palácio do Eliseu classificou a denúncia como fantasia.
— Não há polícia política no nosso país. É uma brincadeira.
A DCRI não é a Stasi (nazista) ou o KGB (soviético). O objetivo da DCRI não é seguir jornalistas, é interpelar terroristas — reagiu o ministro do Interior, Brice Hortefeux.
Agora, é guerra. O “Le Monde” entrou na quarta-feira com uma queixa na Justiça por “violação do segredo das fontes”, depois que o procurador de Nanterre, Philippe Courroye, pediu em setembro que sejam revelados os detalhes das contas telefônicas de dois jornalistas do “Le Monde” que investigam o caso: Gérard Davet e Jacques Follorou. O procurador quer provar que as gravações comprometedoras para o governo foram vazadas pela juíza que lida com a briga da família Bettencourt, Isabelle Prévost-Desprez — o que é proibido.
O Partido Socialista, o maior de oposição, pede uma investigação no Parlamento.
Os verdes reivindicam uma comissão independente de investigação.
Já o “Canard Enchaîné” manteve a denúncia.
— O Palácio do Eliseu pode dizer o que quiser, as fontes do “Canard” são boas e nós não iríamos nos aventurar lançando uma título deste se não tivéssemos algo — declarou à France Presse Claude Angeli, diretor do jornal.”
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