*por José Roberto Ferro, presidente do Lean Institute Brasil
Qual é a coisa mais importante para que se tenha, no geral, uma gestão de alto nível nas empresas de um país?
Boas faculdades de administração? Bons cursos de pós-graduação disponíveis? Consultorias sofisticadas? Tecnologias avançadas? Empresas capazes de desenvolver seu pessoal?
Tudo isso, certamente, pode até ser importante. Mas há algo ainda mais fundamental que, se não existir, jamais haverá a generalização de uma gestão de excelência nas companhias.
Estamos falando da “educação básica de qualidade” que deveria haver no país. Sem educação, não apenas a gestão, mas pouca coisa funcionará de verdade em qualquer nação.
E como a gestão de uma organização requer, cada vez mais, bases educacionais sólidas, num país em que a educação, no geral, é precária, a gestão tenderá a seguir o mesmo caminho.
Infelizmente essa parece ser a nossa realidade atual. Mais uma vez o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), um dos mais importantes testes internacionais que medem a qualidade da educação de um país, aplicado recentemente no Brasil, mostrou, novamente, que a educação brasileira continua indo mal.
O teste feito por nossos estudantes detectou uma queda nas três áreas avaliadas: ciências, leitura e matemática. Com isso, novamente, o Brasil caiu no ranking mundial. Ficou na 63ª colocação em ciências, na 59ª em leitura e na 66ª em matemática. Isso em 70 países medidos. Ou seja, continuamos entre os últimos colocados. E piorando.
Em termos de gestão, isso é muito significativo. Trata-se de três disciplinas fundamentais – ciências, leitura e matemática – para a formação do indivíduo, inclusive para que tenhamos bons gestores, para que todas as pessoas que atuam numa organização tenham condições básicas de trabalhar com excelência.
Conhecimentos sólidos em matemática, por exemplo, são fundamentais não apenas porque boa parte da gestão que se faz numa empresa depende disso, mas, principalmente, porque a lógica matemática, na qual se desenvolve a solução de problemas, é condição sine qua non para se gerir uma companhia.
E a ciência, então. Sem o devido pensamento científico, também não se consegue resolver problemas de forma adequada e definitiva dentro de uma empresa. Não se consegue estabelecer experimentos, desenvolver e testar projetos, fazer melhorias… Isso é o básico. E o que mais vemos são problemas se perpetuando dentro das organizações, sem resolução efetiva etc.
A qualidade da leitura, então, é mais do que fundamental. É evidente que “saber ler”, o que quer dizer entender e interpretar corretamente e profundamente um texto, é essencial para que todo e qualquer aprendizado ocorra. Sem essa devida fluência na leitura, não se pode haver evolução pessoal em qualquer área, incluindo a gestão organizacional.
Há cerca de dois anos, já tinha chamado a atenção para o fracasso da nosso desempenho no PISA e o quanto isso refletia nossa dificuldade em solucionar problemas nas empresas, na coluna “Para enfrentar nossa incapacidade de resolver problemas”.
Agora, dois anos depois, reafirmo o que escrevi naquela coluna anterior. Mas gostaria de complementar o pensamento. A ideia de que com a educação básica que temos hoje no Brasil dificilmente teremos uma gestão de alto nível.
As empresas que adotam a gestão lean (enxuta) sabem que o desenvolvimento da capacitação das pessoas vem do próprio trabalho. As pessoas precisam ser capazes de refletir e aprender à medida em que executam as suas tarefas no dia a dia.
Mas isso leva tempo. E como a carência é tão grande, o esforço requerido por parte das empresas é imenso. Se quisermos mudar essa situação em futuro próximo, precisamos começar a mudar esse jogo imediatamente, transformando radicalmente a qualidade de nossa educação básica.
Empresas são feitas de pessoas. Pessoas são capacitadas primordialmente pelo processo educacional. No Brasil, isso continua indo muito mal.
Fonte: “Época negócios”
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