Semana passada, dois atentados suicidas no sudeste do Irã reduziram uma mesquita a cascalho, deixando 27 mortos e quase 300 feridos. As explosões foram obra do Jundollah, um grupo sunita rebelde cujo nome significa “Soldados de Alá” e que se opõe ao governo central xiita do Irã. Eles são responsáveis por inúmeros ataques a alvos civis e militares dentro do país.
O Irã sempre acusou os Estados Unidos de serem os financiadores do Jundollah. O líder da Oração de Sexta-feira – controlada pelo governo do Teerã – até acusou os EUA de serem o mandante por trás dos ataques suicidas. “Desde que os EUA foram desgraçados no caso de Shahram Amiri (o cientista nuclear iraniano que supostamente espionava para os EUA contra o Irã, e recentemente desertou para a República Islâmica) e a reputação de seu serviço de inteligência também se tornou questionável, quiseram divergir a atenção de sua derrota e desgraça através deste crime.”
Os ataques suicidas a bomba sugerem que o Jundollah sobreviveu a uma grande adversidade no começo do ano, quando seu líder, Abdolmalek Rigi, foi preso em fevereiro e enforcado dia 20 de junho. Quando o regime iraniano apreendeu Rigi, a mídia estatal fez o possível para retratar a operação como uma demonstração da força de seus serviços de inteligência. Equipes de segurança rodearam um Rigi derrotado com agentes corpulentos e vestindo balaclavas, conhecidos como “soldados desconhecidos do Imam Mahdi Messiânico”, para demonstrar a força do Estado contra um rebelde debilitado em rede nacional.
Espalharam-se rapidamente boatos de que os serviços de inteligência iranianos teriam feito um acordo com seus correspondentes paquistaneses, e até americanos, por Rigi, e que sua prisão seria seguida pela soltura de três mochileiros americanos atualmente presos no Irã. A notícia de tal arranjo desmoralizava o Movimento Verde, pró-democracia, que, embora se oponha aos métodos de Rigi, não gostou da facilidade com que a América supostamente se vendeu por ganhos a curto prazo e sucumbiu ao regime iraniano.
Rigi foi rapidamente levado à TV estatal após sua prisão, e foi obrigado a confessar que seu grupo era apoiado e comandado pelos EUA e Reino Unido. A rapidez do pedido de desculpas de Rigi novamente demonstrou a força do regime. Depois que Rigi e seu irmão foram enforcados, o regime estava confiante que era o fim do Jundollah como movimento.
E mesmo assim, as explosões da semana passada sugerem outra coisa. O Jundollah atingiu o governo do Irã num dia altamente simbólico – o aniversário do neto do profeta Maomé, Hussein, reverenciado pelos Xiitas como o maior mártir de todos, assim como o Dia da Guarda Revolucionária no calendário oficial. O Jundollah afirma que as vítimas dos ataques a bomba foram, em sua maioria, Guardas Revolucionários de alta patente, ocupados com as comemorações em sua honra na mesquita. A mesquita também se localizava no centro de Zahedan, onde a segurança é máxima. Agora, é a vez do Jundollah de se vangloriar.
Escapou à imprensa ocidental uma afirmação do Jundollah, além dos atentados, de que um informante importante do regime iraniano foi capturado e assassinado em uma outra operação. O Jundollah avisa a outros colaboradores e informantes que, a menos que cessem sua cooperação com o governo iraniano, também sofrerão o mesmo destino.
Enquanto isso, três membros do parlamento iraniano da região sudeste abdicaram de suas posições. Eles justificaram seu pedido de demissão acusando a incompetência do governo de implementar segurança na região, apesar dos alertas. Mas eles também podem estar tentando escapar da campanha sangrenta de vingança do Jundollah. Um regime que glorifica ataques suicidas pode estar se tornando uma vítima de seu próprio sucesso.
Publicado no Wall Street Journal.
Tradução: Anna Lim (annixvds@gmail.com)
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