A onda de protestos que se intensifica nos países árabes dá uma demonstração ao mundo do que ocorre com uma nação quando submetida a condições de vida sem perspectivas de melhora e traz de volta o discurso de especialistas em política internacional que afirmam que a população desses países não se preocupa com a democracia, da forma como a conhecemos no Ocidente.
Em entrevista ao editor Conrado Mazzoni, reproduzida nas páginas 10 e 11 desta edição de Brasil Econômico, o empresário Joseph Tutundjian, que se notabilizou por sua atuação em comércio exterior, lembrou: “O movimento é decorrente do cansaço de um ciclo de mais de 50 anos de governos que se perpetuam e não mudam as condições de vida, apesar da riqueza do petróleo”.
Tutundjian usa como comparação o que ocorreu na região da antiga Pérsia. Ele era funcionário da Petrobras e morava no Irã durante a revolução islâmica que depôs o xá Reza Pahlevi, em 1979, e deu início a uma profunda discussão no país em que jovens e mulheres começaram a questionar os limites a que estavam submetidos.
A transição durou poucos meses com essa brisa democrática, sufocada por uma estrutura política organizada pelo clero local que substituiu a ditadura do xá pela dos aiatolás.
A falta de estrutura política para substituir um ditador pode criar outro. Os jovens que derrubaram Hosni Mubarak no Egito não têm propriamente um representante e quem tomou as rédeas do país foi o Exército.
A América Latina sabe muito bem o que isso significa e quanto tempo os militares ficaram no poder a pretexto de manter a ordem.
Fará muito bem para a democracia mundial que as redes sociais e a imprensa livre continuem divulgando o que acontece no mundo árabe, no persa, no judaico, no africano e em qualquer outra parte do planeta, não apenas naquelas que representam algum elo da corrente comercial que move interesses mais econômicos que humanitários.
Fonte: Brasil Econômico, 22/02/2011
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