Nunca é tarde para avisar: o aperto de mão entre Lula e Maluf não tem a menor importância
O Brasil ético está escandalizado com o aperto de mão entre Lula e Paulo Maluf. O ex-presidente teria ido longe demais com esse gesto. E uma concessão muito grave para tentar eleger um prefeito, dizem os homens de bem. E o assunto não sai de pauta, com a corrente de indignação se espalhando pela imprensa, pelas escolas e esquinas deste Brasil ultrajado. Todo cientista político teve sua chance de dizer que aquela foto é um “divisor de águas no processo ideológico brasileiro”, um “retrocesso no campo progressista”, um “monumento ao vale-tudo”. Mas nunca é tarde para avisar a esta nação escandalizada: o aperto de mão entre Lula e Maluf não tem a menor importância.
Um comentarista bradava no rádio um dia desses: “Maluf apoiou a ditadura!”. Não, essa não é a grande credencial do ex-governador de São Paulo. Vamos a ela: Maluf é procurado pela Interpol. Independentemente dos resultados dos vários processos em que já foi réu por corrupção, Maluf é símbolo de cinismo e trampolinagem. Mesmo assim, não pode fazer mal nenhum a Lula.
O ex-operário que governou o Brasil por oito anos escolheu como um de seus principais aliados José Sarney. Para quem não está ligando o nome à pessoa, Sarney é o protagonista do caso Agaciel Maia – aquele que revelou a transformação do Senado Federal em balcão de favores particulares. Em telefonemas divulgados pela TV em horário nobre, Sarney aparecia usando a presidência do Senado para reger o tráfico de influência na cúpula do Legislativo. Mostrando influenciar também o Judiciário, o parceiro de Lula conseguiu, por meio do filho Fernando, instituir a censura previa ao jornal O Estado de S. Paulo, até hoje proibido de mencionar a investigação dos negócios de Fernando Sarney no Maranhão.
O que fez Lula diante desse escândalo? Disse que Sarney não podia ser julgado como uma pessoa comum. Segurou-o bravamente na presidência do Senado. Até que a tempestade passasse, deu-lhe a mão e não soltou mais. Qual o problema, então, de dar a mão a Maluf, só um pouquinho, para eleger o príncipe do Enem?
O aperto de mão com Sarney incluiu outras manobras típicas da ditadura que Maluf apoiou. Lula mandou sua ministra Dilma Rousseff intervir na Receita Federal para resolver pendências fiscais da família Sarney. Essa denúncia foi feita por Lina Vieira, ex-secretária da Receita. Ela contou detalhes do abuso de poder da então chefe da Casa Civil. Lina aceitou uma acareação com Dilma, que fugiu – e depois virou presidente.
Quando sua sucessora saiu em campanha, Lula nomeou como ministra-chefe da Casa Civil a inesquecível Erenice Guerra. Braço direito de Dilma, com quem confeccionou o dossiê Ruth Cardoso (contrabando de informações de Estado para chantagem política), Erenice montou um bazar com parentes e amigos no Palácio. Apesar de ter afundado crivada de evidências de tráfico de influência, Erenice recentemente foi puxada pela mesma mão que apertou a de Maluf: desinibido, o padrinho já tenta publicamente ressuscitá-la.
As aventuras de Dilma e Erenice só foram possíveis com a queda do antecessor, José Dirceu – o que mostra uma verdadeira linhagem criada por Lula na Casa Civil. E Dirceu só caiu porque o suicida Roberto Jefferson resolveu atrapalhar um esquema que estava funcionando perfeitamente. Pois bem: no momento em que a Justiça se prepara para julgar o mensalão, o maior escândalo de corrupção já visto na República, protagonizado por todos os homens do presidente Lula, o Brasil resolve se escandalizar porque o chefe supremo dos mensaleiros tirou uma foto com Paulo Maluf. É sempre triste deixar a inocência para trás, mas vamos lá. Coragem. Em todo o seu vasto e conhecido currículo, Maluf jamais chegou perto de engendrar um golpe desta dimensão: o uso do poder central para fazer uma ligação direta dos cofres públicos com a tesouraria do partido do presidente.
O malufismo nunca sonhou com um valerioduto. Como se vê, o Brasil, esse distraído, precisa atualizar a legenda do famoso encontro: se quiser continuar dizendo que ali está a esquerda sujando as mãos com a direita, vai ter de inverter a foto. E, para concluir o jogo dos sete erros: qual dos dois usou crachá de coitado para vampirizar o Estado? Roubar a boa-fé dá quantos anos de cadeia?
Fonte: revista Época
Cada escândalo abala um pouco mais o edifício que não rui com uma só martelada. O caso Maluf vai passar com as eleições municipais e outros virão ocupar o seu lugar. Aos poucos a crise econômica vai fazer mais estragos do que a degeneração moral do governo, como sempre, infelizmente.
Lucido o autor..nao se enrola nos detalhes que encantam a mídia fácil e vai direto ao ponto fulcral: a vocação de Lula para aproveitar -se de benesses que o poder concede aos ” faustos “, mesmo que o caminho tome a vereda do crime e da desça afez..