Quando um pagodeiro, um jogador de futebol e um funkeiro, fantasiados de gorilas e cercados por popozudas de biquíni à beira de uma piscina, se divertem em um clipe do pagode Kong, e são acusados de racismo e sexismo pelo Ministério Público Federal em Uberlândia por “unir artistas e atletas em um conjunto de estereótipos contra a sociedade, comprometendo o trabalho contra o preconceito”, a coisa tá preta.
Alexandre Pires não é só um pagodeiro, é cantor romântico milionário, com carreira internacional, queridíssimo do público. Funkeiro é só um pouco de Mr. Catra, figuraça da cena musical carioca, rapper famoso nacionalmente por suas letras contundentes e suas paródias. E não é só um jogador de futebol: é Neymar. Não por acaso, uns mais e outros menos, são todos negros, ricos e famosos por seu talento, ídolos das novas gerações do Brasil mestiço. Já o procurador é branco, preocupado em proteger os negros para que não façam mal a eles mesmos.
Assim como a beleza, o preconceito também está nos olhos de quem vê. Quem ousaria associar o genial Neymar, o galã Alexandre e o marrentíssimo Mr. Catra a macacos? Só um racista invejoso. Quem se incomoda com piadas e brincadeiras com jogadores de futebol, pagodeiros, funkeiros e marias-chuteira? Logo vão proibir o Criolo de usar o seu nome artístico.
O procurador ficou especialmente incomodado quando Mr. Catra, vestido de gorila, cercado por gostosonas louras, ruivas e morenas e feliz como pinto no lixo, diz ter “instinto de leão com pegada de gorila”. Seria uma sugestão preconceituosa da potência sexual afrodescendente. Êpa! Elogio não é crime.
O clipe já teve mais de 3 milhões de acessos no YouTube, é muito engraçado e bagaceiro, com produção e fantasias bem vagabundas, trash brasileiro. Dá até para sentir o cheiro de churrasco. As mulheres, com seus peitões e bundões, são o sonho de consumo sexual de milhões de brasileiros e, sem preconceito, de brasileiras.
Freud explica: quando João fala de Pedro, está falando mais de João do que de Pedro. Nas falhas, defeitos e intenções que um atribui ao outro, revela-se mais de si do que do outro.
Fonte: O Globo, 11/05/2012
O vídeo é um exemplo de racismo eufemizado pelo humor, como dos negros que pintavam a cara para ficarem ainda mais negros no inicio das representações dos negros na tv estadunidense em programas de “cómedia” tão bem retratadas no filme de Spike Lee Bambloozed.
De fato tornou-se comum dizer que quem fala de raça e se preocupa com essa opressão na sociedade, muito sutil, é que é o racista e não quem não quer falar a respeito e “apenas se divertir” invertendo totalmente a realidade.
Assim não existem racismo, não existe sexismo, não existe qualquer preconceito se esse for eufemizado e sutil e racistas são só os que denunciam o problema. O procurador ser branco e os negros serem gorilas (logo não estariam praticando auto racismo) é a cereja do bolo dessa inversão absurda.
No dia em que os racistas do eufemismo tiverem uma filha casada com um negro e o netinho for sacaneado de gorila na escola ai a gente conversa sobre como o vídeo é engraçado e o procurador racista.
Parece uma total falta do que fazer da parte de algumas pessoas em se preocupar com a fantasia de gorila do cantor, elas tem que se preocupar com a total falta de cultura das pessoas em se ouvir músicas “LIXO” ruins. Digo isso porque sou negro e não me ofendi em nada com aquilo, me ofendi com a letra ruim composição lixo, e alguns torcem para ver aquilo emplacando. Quanto à vulgarização das mulheres isso já acontece em programas de Domingo em todas as emissoras com aquelas dançarinas semi-nuas, e no entanto ninguém fala nada, quer vulgarização maior das mulheres que a música Funk que colocam-nas como mulher objeto de satisfação masculina e muitas pra não dizer a maioria delas rebolam até embaixo no “pancadão” “um tapinha não dói”,se é que pode se chamar aquilo de música. Letras horríveis de péssimo gosto e estão aí no que se chama de popular. Eu aprendi que no Brasil depois da ditadura o popular é lixo “é uma Bosta”.