A hipótese de causalidade entre educação, produtividade e desenvolvimento econômico foi formulada na virada dos anos 1950 para os 1960 por três pesquisadores: Theodore Schultz, Gary Becker e Jacob Mincer.
Mais de 50 anos depois da publicação dos trabalhos dos pioneiros, e uma extensa pesquisa empírica, ainda persiste em alguns rincões, com mais verbo do que números, certo ceticismo.
A pesquisa sobre o tema decorreu de uma observação praticamente universal: a forte correlação positiva entre o nível de escolaridade e a renda do trabalho.
Os pesquisadores mencionados no primeiro parágrafo formularam a seguinte hipótese, conhecida como teoria do capital humano: a educação dota as pessoas de conhecimentos e técnicas, tornando-as trabalhadoras mais produtivas. A correlação positiva entre salário e educação refletiria uma relação de causalidade: maiores níveis de educação elevam os salários porque o mercado de trabalho remunera os trabalhadores de acordo com sua produtividade.
Nos anos 1970, o pesquisador Michael Spence apresentou uma instigante hipótese contrária à teoria do capital humano. Conjecturou que os maiores níveis de renda associados às maiores escolaridades resultavam de causalidade reversa. Pessoas que nasceram mais inteligentes e habilidosas são mais produtivas. O mercado de trabalho, porém, não tem como inferir as habilidades inatas de cada trabalhador. Por essa razão, a qualificação acadêmica funcionaria como uma sinalização da produtividade individual.
O estudo é mais fácil para as pessoas mais inteligentes e habilidosas. Assim, elas estudam mais para sinalizar ao mercado de trabalho sua maior produtividade.
Segundo a teoria da sinalização de Spence, a correlação positiva entre renda e educação decorre de um problema de variável omitida. A não observada inteligência inata induz maior nível de escolaridade, mecanismo de sinalização do maior talento. Não haveria relação causal direta de escolaridade para renda, mas sim de habilidade para renda, sendo a escolaridade um mero farol, uma sinalização da qualidade inata do indivíduo, esta sim a responsável pela sua maior produtividade.
Esse tema tem dominado a academia por muitas décadas. Não há dúvida de que maiores salários estão associados a maiores escolaridades e maiores níveis de inteligência. Será que há uma parcela do ganho de renda que esteja associado à educação independentemente das habilidades cognitivas inatas?
Para responder à questão formulada no parágrafo anterior, pode-se construir um experimento, de forma similar à pesquisa médica sobre a eficiência de uma droga.
De uma população homogênea,metade seria sorteada para ser o grupo de tratamento, e metade, o grupo de controle. O primeiro receberia incentivos para investir em educação, ao contrário do grupo de controle. No mais em tudo semelhantes, um eventual ganho de renda futuro no grupo de tratamento deveria ser atribuído ao maior esforço educacional.
As dificuldades óbvias em construir experimentos ideais, como o mencionado acima, direcionaram boa parte da pesquisa para outros caminhos. Por exemplo, é possível trabalhar com gêmeos idênticos que adquiriram diferentes níveis de educação.
Outra possibilidade é considerar os impactos das leis de idade mínima para sair da escola nos EUA. Dependendo do mês do ano em que a pessoa nasceu, se no primeiro ou no segundo semestre, ela é obrigada a estudar um ano a mais (ou não) na escola antes de abandoná-la. No universo das pessoas que não desejam continuar a estudar, esse ano a mais de estudo melhora de forma significativa a renda futura.
Testes empíricos foram realizados para o papel da educação apenas como sinalização de habilidades inatas, e os resultados foram desapontadores. Melhor educação parece ser a causa dos maiores salários: cada ano de escolaridade eleva o salário de um trabalhador em 10%.
Numa próxima coluna (provavelmente em duas semanas, pois a seguinte versará sobre o PIB do terceiro trimestre, a ser divulgado no dia 3 pelo IBGE), abordarei o segundo capítulo da saga –ainda em andamento– sobre o impacto agregado da educação. Um esforço coletivo por maiores níveis de escolaridade levará a maior crescimento econômico?
Fonte: Folha de S. Paulo, 01/12/2013
Samuel,
Dado que a inteligência inata segue (suponho eu) uma distribuição igual ou parecida em todos os países, a diferença na educação não ficaria responsável por toda a diferença de produtividade entre os eles?? Para apenas um país, talvez essa teoria seja plausível, mas com vários países com níveis de educação diferentes, não vejo como explicar essa diferença utilizando apenas as habilidades individuais.
E não seria possível medir o efeito da educação na produtividade através da análise da diferença entre a relação produtividade/educação entre eles?? Isso eliminaria o efeito da variável habilidade, já que a distribuição desta é igual em todos os países.
Abs,