A valorização cambial é um problema grave que está tirando a competitividade do setor produtivo brasileiro com um custo fiscal crescente. O BC anunciou mais uma medida para reverter a apreciação do real, limitando a posição vendida dos bancos. A ação terá algum impacto positivo, pois diminui a demanda por divisas estrangeiras e, com isso, sua cotação tem uma pressão de alta.
Mas o efeito será tênue. Os bancos estão endividados, liquidamente, em US$ 16 bilhões, e o razoável é que esse número deixe de aumentar, caia em US$ 4 bilhões e volte ao nível de dois meses atrás.
A bem da verdade, parte do aumento da posição vendida veio por conta de outra ação do BC, o aperto do compulsório em dezembro. Com o enxugamento da liquidez interna, os intermediários financeiros tiveram um incentivo a se endividar mais no exterior para captar recursos.
A medida anunciada ontem vai encarecer essa operação, e o custo do dinheiro interno vai subir. Ganha quem tem, perde quem deve.
O país tem quase US$ 300 bilhões em reservas. Como as divisas rendem 10% menos que os juros da dívida, em números redondos, oneram o país em 1,5% do PIB. Ou seja, metade do superavit primário é gasta na política de reservas. São recursos que saem do bolso dos contribuintes locais e vão para os investidores estrangeiros. Cada brasileiro vai pagar meio salário mínimo neste ano por conta dessa política.
Quanto mais divisas o BC tem, mais garantias o investidor estrangeiro tem de que o governo é solvente. Com isso, mais títulos brasileiros vão para suas carteiras, agravando ainda mais o quadro.
O câmbio, diferentemente de outras mercadorias, não tem a cotação dada só por oferta e demanda, mas sim pela expectativa de fluxos futuros. Embora, num primeiro momento, a compra de divisas possa ter ajudado o país, agora está prejudicando.
A solução é abandonar as compras de dólares e atuar rapidamente em três frentes:
1) melhorar os mecanismos de transmissão da política monetária (leia-se acabar com as “jabuticabas” ou “heterodoxias” existentes); 2) aprimorar a dinâmica fiscal; e 3) elevar a competitividade do setor produtivo com reformas e infraestrutura.
Afinal, ano novo, vida nova!
Fonte: Folha de São Paulo, 07/01/2011
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