Com certeza neste fim de ano não faltarão perspectivas soturnas, ainda que muito corretas. São sinais de que o véu da recessão econômica continuará a ser cruel com os empreendedores do país, e as insatisfações continuarão a aflorar. Mas, se 2016 foi um ano de resistência, o ano de 2017 poderá ser um ano de mudanças de direção.
Há um esgotamento do modelo político e de Estado populista genérico e um ensaio de mudanças que podem significar um arejamento e uma perspectiva para um novo momento a partir de 2018 e 2019. A principal razão para colocar certa fé nessas mudanças é que essas se originam no modo de pensar de segmentos crescentes da sociedade brasileira, de maior racionalidade e mal-estar por nosso atraso organizacional e institucional na área pública, que tem contribuído para estagnar o quadro econômico e de produtividade do País como um todo.
Diversos processos e práticas tóxicas para o desenvolvimento do país chegaram ou chegam próximos ao seu limite: as finanças de alguns dos maiores estados do país, após décadas de acúmulo de déficit, não têm outra resolução além de um profundo processo de realocação de recursos; a crise de representatividade política poderá levar a uma reforma política que possibilite o voto distrital e uma reforma partidária; a carga tributária chega ao limite de asfixia do empresário de todos os portes.
Em um país de renda média, com a economia mais complexa da América Latina, em meio a uma quarta revolução industrial que ainda é pouco compreendida, em um processo próprio de desindustrialização e mudança radical das relações de trabalho, a entrada da economia verde como mainstream, vivendo o seu bônus demográfico, o único caminho possível é um choque institucional, ainda que gradual: avanços em reforma do Estado, previdência, trabalho, tributária e política. Certamente esse ciclo, adiado talvez por duas ou três décadas no País, se completará a partir do novo mandato presidencial de 2018. Mas 2017 é o ano em que a noção de que essas mudanças de direção institucionais são inadiáveis deverá se firmar como majoritária.
Alguns poderão dizer que posso estar construindo um cenário com que na verdade sonho. O cenário de reformas difíceis e polêmicas é viável em um país em que aprendemos até mesmo a ter aspirações mais modestas. A elite dirigente está afundada em um modelo anacrônico e estranho à realidade e necessidades do país de hoje. Por isso, acredito em 2017 como um passo adiante a partir do duro aprendizado que 2016 já nos impôs.
Um alívio que não virá sem reformas e capacidade de adaptação.
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