A formalização do apoio dos partidos do centrão à pré-candidatura do tucano Geraldo Alckmin deu uma clareada na disputa presidencial, sem entrar no mérito se esse fato é bom ou mau para o futuro do país. Não se trata aqui de analisar conceitualmente essa união, que para muitos é um abraço de afogados. Outros acham que a candidatura tucana ganha substância e passa a ser competitiva.
O fato é que a adesão do centrão (ou será adesão ao centrão?) passará agora pelo crivo dos eleitores, e as pesquisas eleitorais mostrarão mais adiante as consequências dessa decisão.
Muitos eleitores tucanos rejeitarão esse conchavo partidário com legendas que abrigam investigados e indiciados na Lava-Jato, dando destaque ao inquérito a que o próprio Alckmin está submetido. Se bem que os tucanos há muito tempo lidam com as incongruências do partido, que se recusou a punir o ex-candidato à Presidência Aécio Neves, o que contaminou todo o resto.
Dependendo da intensidade dessa rejeição, quem pode se beneficiar é a pré-candidata da Rede, Marina Silva, que, no entanto, mais uma vez dá a sensação de não controlar seu próprio partido.
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Delegar às direções regionais a decisão sobre acordos eleitorais, e ser surpreendida, como foi no Rio, com a aliança com o partido de Romário, que a própria Marina rejeitou, repete o voto do representante da Rede no impeachment de Dilma.
A Rede, depois de uma infindável discussão, resolveu apoiar a destituição da então presidente, mas seu representante na comissão votou contra.
Se, no entanto, a máquina eleitoral dos partidos que formam o centrão superar as eventuais rejeições do eleitorado, que pode reagir com pragmatismo diante da possibilidade de vitória de Bolsonaro ou do candidato da esquerda, o tucano Alckmin poderá se beneficiar do chamado voto útil antecipado, recuperando os votos que foram para Bolsonaro, especialmente no campo, e para Alvaro Dias nas regiões Sul e Sudeste.
A incógnita é a candidatura do PT que, de tanto ser retardada pelo projeto pessoal de Lula, não se sabe se será exitosa, pois os candidatos apresentados até agora não mobilizam o eleitorado.
Parece mais fácil aumentar o índice de votos nulos e em branco, além da abstenção, do que a transferência maciça de votos. Para que seu candidato chegue ao segundo turno será preciso que Lula transfira a ele pelo menos metade de sua votação potencial, que está em torno de 30% nas pesquisas confiáveis.
Colocar um poste com cerca de 15% no segundo turno parece tarefa difícil de concretizar, por mais carismático que seja o ex-presidente. O problema do PT é que os possíveis substitutos nada têm de carismáticos, e a lembrança do desastroso governo Dilma, poste que se recusou a deixar o poder para abrir caminho para a tentativa de volta de Lula em 2014, deve ter marcado não apenas o eleitorado, mas o próprio ex-presidente. Talvez por isso relute tanto a indicar um substituto.
A possibilidade de termos novamente a sexta disputa presidencial entre PT e PSDB, apesar de todos os pesares, demonstraria que as máquinas partidárias ainda são relevantes, e que a chance de uma renovação política é escassa.
Na verdade, a renovação não é um imperativo em si num sistema político-partidário maduro. Essa renovação só é desejável entre nós diante do descalabro de corrupção que está sendo revelado pela LavaJato, demonstrando que o sistema está falido e precisa de um aggiornamento para incluí-lo nos arranjos de modernidade necessários ao país. Essa atualização partidária depende, sobretudo, de ser reivindicada pelos cidadãos. Que só o farão quando ligarem causa e efeito, para o que é preciso uma política educacional com visão de futuro, mais eficaz e ampla.
Nem PT nem PSDB fizeram seu aggiornamento ,ao contrário de alguns partidos europeus. O melhor exemplo sendo o Partido Comunista Italiano, que virou de esquerda democrática. Porém, se as máquinas partidárias, como acreditam petistas e tucanos, forem capazes de colocar seus representantes no segundo turno, vai ser difícil ao futuro presidente conseguir fazer uma verdadeira reforma político-partidária, que seria contrária aos interesses dessas máquinas e, no limite, aos do próprio presidente, eleito por elas.
Fonte: “O Globo”, 27/07/2018