Para Nadim Houry, da Human Rights Watch, é preciso consolidar mudanças
O que é a rebelião 3.0?
A primeira rebelião foi a das derrocadas, dos movimentos populares que colocaram os ditadores em fuga. Foram os grandes protestos de jovens até então não envolvidos com a política. A segunda, ocorreu com as eleições e a chegada dos islamistas ao poder. A fase seguinte, a rebelião 3.0, começa quando os governos islamistas começam se meter em problemas. Não são mais capazes de cumprir as expectativas, as pessoas se mostram muito insatisfeitas e começam a fazer oposição.
Quem lidera essa fase?
Não é fácil definir. É um período de ameaças e consolidações. Alguns atores do antigo regime querem voltar porque veem uma oportunidade. Mas há esforços de consolidação dos movimentos democráticos: aprenderam com seus erros durante as primeiras eleições, quando não estavam organizados. E há ainda os militares.
Há os que dizem que os árabes não estão prontos para a democracia.
Se há uma lição clara é que não há uma “exceção árabe”. O que revindicam, no final das contas, são valores universais: liberdade e dignidade. Isso não significa que rapidamente haverá muitos democratas. A América Latina, por exemplo, tem muitos populistas que não são necessariamente democratas. É preciso uma certa maturação para se converter em um verdadeiro democrata, saber aceitar as diferenças e as leis do jogo. O desafio é transformar ânsia e liberdade em dignidade e instituições democráticas.
Como se faz isso?
Não se pode voltar atrás. O gênio está fora da garrafa, agora é preciso consolidar as mudanças. A chave é convencer as pessoas, através do debate público, de que o Estado de Direito é a maneira de ter êxito como sociedade. Antes você se calava, o Estado sabia o que era melhor e te dava pão subsidiado. Isso se quebrou e a questão agora é o que vai substituir a essas ditaduras.
Fonte: O Globo
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