O Brasil vive um momento ímpar. Percebemos isso quando os políticos membros do establishment, aqueles que sempre estiveram nas esferas de poder, começam a ficar temerosos com os resultados das investigações da Justiça. Pela primeira vez a população enxerga aqueles que outrora eram intocáveis como alvos de ações policiais. Mas como todo movimento que ataca o funcionamento do sistema, a Lava Jato vem sofrendo tentativas sucessivas de golpes que visam frear, desviar ou impedir suas ações.
Proposições como o projeto que trata do abuso de autoridade, recolocado em pauta de forma casuística, foi um dos grandes exemplos dos movimentos contra as investigações. Desfigurar na calada da noite a proposta popular das “10 Medidas Contra Corrupção” também descortinou mais uma manobra para conter os avanços da Lava Jato. Assim como a apresentação de proposta de emenda constitucional com o intuito de blindar políticos, que impede a responsabilização de ocupantes da linha sucessória da Presidência por atos estranhos ao exercício de suas funções durante o mandato. Nos três casos, entretanto, a pressão da opinião pública foi fundamental para evitar que as manobras se tornassem efetivas e criassem freios contra as investigações que desnudam os esquemas de corrupção no Brasil.
Ao invés de enfraquecer os órgãos de investigação e controle, precisamos dotá-los de instrumentos efetivos para que exerçam seu trabalho de forma eficiente. Como já lembrado neste espaço anteriormente, ponto fundamental para acabar com a impunidade no Brasil passa pelo fim do foro privilegiado. Hoje, este mecanismo tornou-se apenas uma forma de retardar as condenações, tornando os políticos praticamente inimputáveis. A proposta do senador Álvaro Dias (PV-PR), que extingue o foro, está pronta para ser votada. Se isso não ocorrer, nada impede que o Supremo Tribunal Federal limite o alcance deste instrumento, como já lembrado pelo ministro Roberto Barroso.
É preciso também deixar claro que o modelo de financiamento de campanhas realizado pela Odebrecht e outras empreiteiras constitui-se em crime. O Brasil não pode deixar-se enganar por argumentos maleáveis que servirão somente para justificar o financiamento de campanhas com dinheiro público desviado de estatais. Políticos desonestos não são apenas aqueles que desviam o dinheiro de nossos impostos diretamente para seus bolsos, mas também aqueles que desviam recursos públicos para financiar sua perpetuação no poder por meio de campanhas eleitorais.
O Brasil vive um embate entre duas visões de país. A nova política, que emana das ruas e da meritocracia, com o vigor dos empreendedores e de políticos retos. A velha política, apegada aos mecanismos ultrapassados de benesses, acomodações e mordomias. Enxergo esta realidade longe de colorações partidárias ou ideológicas. Uma geração nova, que deseja passar o Brasil a limpo, está diante dos mecanismos sujos de uma elite ultrapassada que, entretanto, ainda acumula poder. O destino do Brasil depende de quem sairá vitorioso. Com a palavra, o eleitor em 2018.
Fonte: “O Tempo”, 6 de março de 2007.
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