Os dados da balança comercial de outubro mostram o setor externo rumando ladeira a baixo. A retomada do dinamismo e do crescimento das exportações brasileiras somente deverá ocorrer se o governo que se instala em janeiro de 2015, redirecionar, apesar das resistências ideológicas do PT, a atual política de comércio exterior.
Cada vez mais isolado das novas tendências do comércio internacional e com dificuldades para criar um mercado regional para seus produtos, ao contrário do que ocorre na Ásia e na Europa, o Brasil deveria rever sua estratégia de negociação comercial, sem preconceitos ideológicos, com vistas à abertura de novos mercados, não só entre os países em desenvolvimento, mas também nos países desenvolvidos.
A atual lógica de fragmentação do comércio internacional está voltada para a integração das empresas por meio das cadeias globais de valor. 56% do intercâmbio global e 72% dos serviços ocorrem dentro das mesmas companhias e são facilitados por acordos comerciais com regras negociadas bilateralmente.
O Brasil tem encontrado dificuldade para inserir seus setores industriais e de serviços nos grandes centros difusores de tecnologia. Segundo a OMC, a participação do país nas redes internacionais de produção é de apenas 40%. A prioridade nos últimos doze anos, apenas para as negociações multilaterais no âmbito da OMC, do Mercosul e na América do Sul não mais serve aos interesses brasileiros.
À luz dessa nova realidade do comércio internacional, é imperativo que o Brasil repense sua política industrial. Uma nova estratégia de negociação global, regional e bilateral é fundamental para que o Brasil melhore sua competitividade e possa ter acesso a inovação e tecnologia. Essas seriam as bases para o país entrar nessas negociações desde que se leve em conta as debilidades das empresas nacionais e enquanto não desaparecerem as causas da perda de competitividade do setor produtivo. Com essa cautela, seria possível promover a integração competitiva dos produtos brasileiros nas correntes de comércio dentro de uma nova política de comércio externo do Brasil.
O Brasil deveria assumir a liderança no desenvolvimento de cadeias globais de valor e complementariedade produtiva na América do Sul. Estudos do Ipea poderiam servir de base para iniciativa brasileira nesse sentido. Por outro lado, se todos os compromissos de liberalização incluídos nos acordos de comércio entre os países sul-americanos forem cumpridos, estará criada em 2019 uma área de livre comércio entre todos os países da região, o que poderá facilitar a integração das empresas brasileiras nas cadeias produtivas.
A Camex, caso vinculada diretamente ao presidente da República — uma reivindicação do setor privado —, teria seu poder decisório fortalecido e poderia assim dar maior força ao comércio exterior, sempre marginalizado nas decisões de política macroeconômica. Se nada ocorrer na nova gestão petista, o Brasil continuará atrelado ao atraso e cada vez mais isolado no âmbito do comércio internacional.
Fonte: O Globo, 11/11/2014.
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