O furacão Michael atingiu os Estados Unidos com uma violência poucas vezes vista nos últimos 150 anos, causando prejuízos inicialmente estimados em US$ 30 bilhões. As Filipinas sofrem uma série de eventos composta por terremoto, tsunami e erupção vulcânica. O Japão foi varrido pelo tufão mais forte dos últimos 25 anos. Portugal enfrentou a pior tempestade dos últimos cem anos. A ilha de Maiorca foi alagada por uma inundação que matou 12 pessoas. Algumas regiões brasileiras enfrentam uma das estiagens mais fortes do século, responsável pela transformação radical do perfil do Rio São Francisco e pelos baixos níveis de água das represas de São Paulo.
A camada de gelo está derretendo, o nível do mar está subindo e não há nada que se possa fazer para deter imediatamente as transformações brutais que vão atingindo o planeta e que, além das mudanças climáticas, de alguma forma estão vinculadas aos cataclismos naturais que vão se sucedendo ao redor do mundo.
Se a série de eventos mantiver o ritmo atual, o cenário futuro de algumas das mais importantes cidades a beira mar é dramático. Uma variação de poucos centímetros no nível dos oceanos é suficiente para causar danos incalculáveis em metrópoles como Nova York, Londres, Barcelona, Lisboa e centenas de outras cidades ao longo da costa de todos os continentes.
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Para quem imagina que o quadro é exagerado, o que vem acontecendo no litoral brasileiro, mais exatamente na Praia do Tombo, no Guarujá, ou em várias praias nordestinas, onde o mar já destruiu ruas e imóveis ao longo da orla, é suficiente para mostrar que o que vem pela frente pode ser muito pior.
Se o nível dos oceanos subir cinco centímetros será mais do que bastante para expulsar milhares de pessoas de seus domicílios, com todos os problemas socioeconômicos resultante de um êxodo desta dimensão.
Mas as ameaças vão além da elevação do nível do mar. Chuvas torrenciais estão tomando o lugar das chuvas “criadeiras” que caíam preparando o solo e permitindo o desenvolvimento da agricultura. As tempestades que se abatem cada vez com mais regularidade sobre grandes áreas agrícolas são tão prejudiciais quanto as estiagens que sistematicamente cobram seu preço em regiões famosas pela fertilidade do solo e produtividade das lavouras.
A desertificação do planeta não é alarmismo, está aí, se acentuando rapidamente, por causa do aumento das temperaturas e redução das chuvas.
Como se não bastasse, o êxodo rural tem adensado as áreas urbanas, colocando grandes aglomerações humanas em locais absolutamente impróprios. São áreas sujeitas a inundações, deslizamentos de terra, furacões, tornados, tempestades tropicais, granizo, vendavais e o mais que a natureza tenha em seu diversificado rol de eventos que podem causar danos ao ser humano.
Os custos destes fenômenos sobem rapidamente de ano para ano, preocupando as seguradoras que sabem que não têm recursos próprios para fazer frente aos números decorrentes dos eventos que vão se tornado cada vez mais frequentes.
Ainda que os países em desenvolvimento não contratem seguros para transferir para elas pelo menos parte dos prejuízos, as perdas nos países ricos já atingiram patamares capazes de mostrar que as projeções futuras são muito mais sombrias do que as perdas atuais. Sem um pacto entre o setor de seguros e os governos não há solução possível para fazer frente aos prejuízos que nos próximos anos serão parte da vida de praticamente todas as nações.
A diferença entre países que contratam seguros e nações como o Brasil, que não contratam, é que enquanto todos são mais ou menos atingidos pelos fenômenos de origem natural, os países ricos transferem a obrigação de indenizar parte das perdas para as seguradoras.
Já os países em desenvolvimento, como não contratam seguros, deixam o total dos prejuízos a cargo de seus governos, que, ou não agem rapidamente, ou são obrigados a suspender programas de desenvolvimento para fazer frente aos desastres naturais. É hora de mudar isso.
Fonte: “O Estado de S. Paulo”, 12/11/2018