Seguindo a série de artigos em resposta às questões que me foram colocadas quando falei do Bolsa-Família, passo para a segunda pergunta que me foi posta: “E o aumento das crianças na escola”?
Vamos à resposta, mesmo que nesse caso o quadro seja muito desanimador e preocupante. Por uma questão de espaço me deterei apenas às disciplinas de Português e Matemática, mas já será o suficiente para percebermos o caos da educação no Brasil.
O relatório publicado pelo Ministério da Educação (MEC) do SAEB e Prova Brasil, revelou números muito preocupantes, tendo em vista que 90% dos alunos concluintes do Ensino Médio saem da escola sem saber resolver cálculos de distâncias e alturas usando razões trigonométricas, ou sequer conseguem calcular a área de uma pirâmide. Para possuírem as competências matemáticas mínimas previstas, seria necessário alcançar 350 pontos em determinada avaliação. No entanto, esse impressionante índice de jovens não conseguiu atingir o resultado em uma escala que vai de 250 a 450. O mais grave nisso tudo é que ocorreu um retrocesso do resultado em Matemática: a expectativa era de que o país avançasse de 11% para 20% o número de jovens com ensino médio concluído e adequado na disciplina, mas esse número recuou para 10,3%, uma situação extremamente preocupante.
Conhecimentos matemáticos básicos estão sendo negligenciados se considerarmos a realidade de que muitos desses jovens não sabem ler um gráfico de colunas ou realizar um cálculo de percentagem. Na língua portuguesa a situação não é muito melhor: apenas 27% dos estudantes conseguiram resultados satisfatórios na Prova Brasil em Língua Portuguesa abaixo da meta projetada de 32% que, convenhamos, já era uma baixa. Isso significa que a maior parte desses estudantes não tem a capacidade de compreender um texto que lê, isso quando eles conseguem ler de maneira fluente.
As causas para tal situação ficam evidentes quando percebemos que, no caso da matemática, poucas turmas se formam devido a enorme complexidade das disciplinas e dos salários infames pagos pela educação em nosso país. Hoje em dia as universidades juntam várias turmas de licenciatura para a realização de uma única formatura. Quanto ao Português, além desse quadro, temos ainda dois dados descobertos pelo MEC que são extremamente alarmantes: apenas 45% dos professores dessa disciplina leem regularmente, e, 72,5% das escolas do país não possuem biblioteca. Frente a isso, como exigir do aluno o hábito da leitura?
Não há como culpar o docente, isso porque o mesmo em regra tem de ter dois ou três empregos para poder se sustentar adequadamente, e, em função desse fato acaba por consumir todo o tempo que poderia utilizar para a atividade da leitura, essencial à sua atividade. O Estado sabe cobrar as obrigações dos outros, mas se nega a cumprir as suas, basta lembrar que de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) todas escolas devem ter uma biblioteca com ao menos um exemplar por aluno.
No final do ano passado foi publicada uma pesquisa realizada por uma das maiores consultorias do mundo, a “Economist Intelligence Unit” (EIU) da “The Economist”, encomendada pela Pearson Education. O relatório analisou os sistemas educacionais de quarenta países os classificando do primeiro, o melhor, ao quadragésimo, o pior sistema educacional do mundo. O primeiro lugar ficou com a Finlândia e o Brasil ficou em 39º, na frente apenas da Indonésia. Já a mais recente avaliação do “Programme for International Student Assessment” (PISA), índice adotado pela OCDE para avaliar as habilidades educacionais dos estudantes em leitura, matemática e ciências, no qual são avaliados 65 países, o Brasil figura no 53º lugar.
Para encerrar vamos aos dados que tanto falam: o número de crianças na escola, curiosamente outra meta não atingida. O governo esperava alcançar o universo de 94,1% das crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos, mas alcançou 92%.
Poderia falar do conteúdo ideológico nos programas e livros selecionados pelo MEC e muitas outras coisas, mas fica difícil se preocupar com ideologia se as crianças não saberão mais ler. Há uma lógica nisso, a falta de educação é essencial para qualquer “lavagem cerebral”. Assim se criam fundamentalistas. Em regra, para políticos não interessa qualidade, mas quantidade. O grande problema aqui é que quando se destrói a educação, se elimina o futuro.
Para aumentar o nº de crianças na escola não é necessário dar bolsa familia, bastariam duas medidas. Uma é cumprir a lei. Até onde sei, não matricular os filhos na escola, ou retirá-los dela, é crime, de acordo com nossa legislação. A segunda medida seria o governo fazer a sua parte, e levar a escola até onde as crianças estão. Muito tempo atrás vi uma reportagem sobre um grupo de crianças pequenas, que levantavam às 4 hs. da manhã, andavam cerca de 12 km. a pé, para pegar um transporte caindo aos pedaços e viajar horas até chegar na escola. O que essas crianças têm condições de aprender, com sono e mortas de cansaço? Não adianta dar bolsa familia, deveria era ter uma escola lá onde elas vivem. E, de preferência, uma escola de qualidade.
Mais um tema polêmico sim Sandro Schmitz. Confesso a você que tenho muitas deficiências na minha educação como você inicia seu artigo, fiz meu Ensino Médio em escola pública e todos os anos faltava professores. Como aprender todos os conteúdos programáticos quando as aulas realmente iniciavam após o segundo semestre de aula efetivamente? Lembro-me de alguns professores que falavam que não podiam mudar o modo de dar aulas para que os alunos começassem a entender, pois a regra era o ensino tradicional ou “medieval”.Infelizmente isto se repete nas escolas estaduais; falta de professores e muita falta de vontade do poder político de mudar esta realidade. Sabe o que mais me decepciona? Que igualmente as Universidades não estão formando bons profissionais.
Me formei este ano, e nos e-mails da comissão de formatura, vi vários colegas com erros de português grotescos.O que dizer? A educação continua negligenciada e até quando?
Tenho verdadeira saudade das disciplinas de Organização Social e Política Brasileira (OSPB) e Educação Moral e Cívica (EMC), do período militar. Não pelo ufanismo cívico, isto de fato era dispensável, mas, perdeu-se a noção do valor da consciência cidadã, do nacionalismo, da unidade nacional, da noção de direitos e deveres, do respeito as autoridades civis e militares, coisas básicas da educação, do respeito em si e que não vemos mais nas disciplinas de hoje em dia. Hoje, vulgarizando, poste mija em cachorro! Os tempos mudaram e não foi para melhor, é preciso reaprender a ser cidadão nas escolas, sem lavagem cerebral, sem aparelhamento, apenas permitir que se discuta filosofia, sociologia, ética, moral e ciência politica nas escolas, só isto, ensinar a ser cidadão!
Como professora de física de escola pública é exatamente isso que acontece, a matemática foi tirada da física, se aprova alunos no ensino médio para constar em índices do SARESP, que é uma prova avaliativa, entre tantas, do professor, pois os alunos já estão muito bem avaliados, assim essa prova serve para mostrar o quanto o professor é incompetente. Um absurdo mostrado pelo Estado, pois não assume a própria incompetência. parabéns pelo artigo. Muito bem explicitado a nossa realidade.