Em 1931, Friedrich August von Hayek, professor de economia da Universidade de Viena, da terceira geração da excelente Escola Austríaca de Economia — ex-aluno do luminar Ludwig von Mises —, também formado em direito e filosofia, foi convidado para fazer uma conferência na London School of Economics. Acabou contratado pela escola, radicou-se na Inglaterra e mais tarde se naturalizou inglês. Teve grandes polêmicas com seu colega e amigo Lord Keynes, na University of Cambridge, tendo refutado suas teorias, como a que sustentava que o Estado deveria gastar para tirar a economia da recessão, alertando-lhe de que esta era uma política inflacionária, que após uma euforia de crescimento econômico reconduziria à recessão, como acabou acontecendo no mundo após a morte de Keynes, em 1946.
Durante a Segunda Guerra Mundial, prevendo o crescimento do socialismo e do fascismo, Hayek escreveu o livro “O caminho da servidão”, publicado em 1944 em Londres, para prevenir a sociedade inglesa dos perigos do socialismo, que resultaria em crescimento excessivo do Estado e no autoritarismo, com perda da liberdade individual e da propriedade privada, alto desemprego, inflação e pobreza. O livro era profético e a Inglaterra, que lhe não deu ouvidos, ao cabo de 20 anos ficou com a economia devastada pela inflação, pelo sindicalismo predador, pelo alto nível de desemprego e pela perda da competitividade de sua já então sucateada indústria. Hayek recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 1974.
Entretanto, a semente lançada por seu referido livro viria a germinar na cabeça de um pequeno empresário inglês chamado Antony Fisher. Piloto de combate da Real Força Aérea, condecorado por bravura, terminada a II Grande Guerra voltou ao negócio de aviário, produzindo aves e ovos nos arredores de Londres. Após a leitura do resumo de “O caminho da servidão”, publicado na revista “Reader’s digest” em 1955, foi procurar o autor na Universidade de Londres e lhe disse que, como empresário, já estava sofrendo as consequências da política socialista do Partido Trabalhista inglês, que assumira o poder após a guerra. Excessiva regulamentação do mercado, estatização de empresas de carvão, aço, telefones, energia e transportes, com impostos cada vez mais escorchantes estavam dificultando o crescimento dos negócios e a contratação de mais empregados, tal como previsto no livro.
Tony Fisher disse então ao Prof. Hayek que estava disposto a entrar num partido político para tentar mudar os rumos do governo de seu país. Ouviu dele que se entrasse num partido iria caçar votos, e assim jamais teria credibilidade para vender ideias políticas. Pois se quisesse mudar o país teria de mudar a ideia dominante, do socialismo. “O que fazer então?”, perguntou Fisher. O conselho que ouviu foi o de buscar a colaboração de professores de ideias liberais clássicas que o apoiassem na fundação de um instituto de pesquisas econômicas e sociais, e reunisse outros empresários que lhes ajudassem a levantar fundos, sempre provenientes de indivíduos e empresas privadas, jamais do governo, para financiar a entidade, que seria sem fins lucrativos. Seu público-alvo deveria de ser os segmentos formadores de opinião da sociedade, com a divulgação dos resultados das pesquisas através da publicação de livros, periódicos, artigos de imprensa além de promover conferências seguidas de debates, cursos e palestras dirigidas a professores universitários, jornalistas, acadêmicos, estudantes, religiosos e profissionais liberais, associações de empresários, sindicatos e donas de casa.Tendo sempre em vista que jamais a entidade conseguiria levantar recursos suficientes para atingir as massas populares com as ideias corretas, pois a mídia, como sabia ele, custa muito caro. E, ainda, que não esperasse resultados no curto prazo, mas pelo menos dentro de umas duas décadas.
Em 1957, já com sua empresa consolidada, Tony Fisher, professores e outros empresários fundaram o Institute of Economic Affairs — IEA, em Londres. Em 1960 ele ajudou outros a fundar o Adam Smith Institute — ASI, também em Londres. Alguns anos depois, uma deputada à Câmara dos Comuns pelo Partido Conservador, que tinha lido as publicações e assistido as conferências daqueles dois think tanks (bancos de ideias) elegeu-se Primeira Ministra da Inglaterra. Era Margaret Thatcher. Os dois institutos, principalmente o ASI, ajudaram-na a formular o seu programa de governo, ainda como parte de sua plataforma eleitoral, com o ambicioso programa de privatização e desregulamentação da economia. O resto é história. A Inglaterra teve sua economia restaurada, com o apoio da sociedade, em boa parte influenciada pelos referidos think tanks, os poderosos sindicatos perderam o poder de destruir indústrias, a inflação foi debelada e o nível de emprego britânico se tornou um dos mais altos da União Europeia, com salários equivalentes ou até superiores aos dos operários alemães.
Tony Fisher encerrou seus negócios por volta de 1976, aposentando-se, e mudou-se para os Estados Unidos onde fundou a Atlas Economic Research Foundation e mais dois think tanks voltados para a divulgação das ideias liberais em economia e política, a defesa da economia de mercado, da liberdade individual e do Estado de direito sob o império da lei. Morreu na Califórnia trabalhando em um deles. O ex-presidente Ronald Reagan, adotando essas ideias (com corte de despesas públicas e correspondente redução de impostos), reconduziu os Estados Unidos para impressionante surto de crescimento econômico sustentado, que viria beneficiar o presidente Bill Clinton. Foi aquele boom econômico sustentado que salvou o ex-presidente Bill Clinton de impeachment, pelo escândalo sexual na Casa Branca e pelo escândalo imobiliário em seu estado, o Arkansas, quando, anteriormente, fora governador do mesmo. Tal é a força das ideias corretas.
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