O governo não passa de um aglomerado de burocratas e políticos, que almoçam poder, promoção e privilégios. Somente na sobremesa pensam no “bem comum”. (Roberto Campos).
Brasília é o exemplo pronto e acabado de que Roberto Campos estava coberto de razão quando proferiu a sentença acima. A divulgação, pelo IBGE, do último ranking brasileiro de renda domiciliar per capta, além de tornar aquela uma verdade insofismável, mostra como o inchaço da máquina governamental contribui para o recrudescimento da famigerada “desigualdade social”, no lugar de amenizá-la, como proclamam os senhores da razão em suas platitudes esquerdizantes.
Reparem no gráfico acima que o Distrito Federal aparece disparado em primeiro lugar, com uma renda bem acima do segundo colocado – São Paulo – e o dobro à frente da média nacional, sem falar do último colocado – o miserável Maranhão, com renda equivalente a ¼ da de Brasília. Nossa balofa burocracia federal continua imbatível. Suas sinecuras, privilégios e demais benefícios diretos e indiretos, devidamente resguardados por uma constituição anacrônica e por normas de direito administrativo espúrias, muitas vezes paridas por legisladores imbuídos do mais genuíno espírito corporativista, a tornam uma excrescência opulenta, num mar de pobreza e penúria.
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Por favor, não me interpretem mal. Nada tenho contra os altos rendimentos, sejam eles resultado do lucro empresarial ou da renda salarial. Pelo contrário, apologista que sou do capitalismo liberal como modelo econômico mais eficiente e justo, penso que o papel dos ricos na sociedade é de suma importância para o seu desenvolvimento e prosperidade.
Entretanto, num sistema de livre mercado onde a interferência do governo na economia é mínima, os proventos de um indivíduo no mercado competitivo costumam ser diretamente proporcionais à geração de riquezas para a qual ele contribui. Assim, a renda de um empresário será equivalente ao nível de competitividade e lucratividade da sua empresa, enquanto o salário de um alto executivo terá, da mesma forma, uma relação estreita com o grau de eficiência e produtividade que ele vier a demonstrar. Em qualquer caso, porém, o rendimento do trabalhador privado é, de alguma forma, proporcional à riqueza que ele é capaz de produzir.
Já a maioria dos felizardos que trabalha para o Estado, por outro lado, está imune a essa cruel avaliação do mercado. Primeiramente, porque governos, de modo geral, não geram riquezas, apenas as consomem através dos tributos, o quê, por conseguinte, torna quase impossível medir a produtividade dos seus funcionários. E em segundo lugar, devido àquele emaranhado normativo recheado de nomes pomposos que costumam proliferar no serviço público, como plano de cargos e salários, isonomia, inamovibilidade, etc., que há muito aposentaram quaisquer sistemas de mérito que algum dia houve no serviço público. A remuneração é por cargo ocupado ou por tempo de serviço, não por capacidade ou merecimento. Demissão, só por justíssima causa.
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Ressalvado o fato de que toda regra tem suas exceções, não há como negar que o clientelismo tornou predominante o número de repartições burocráticas onde o contingente de pessoal é muitas vezes maior que o necessário. Não obstante todo esse inchaço, os serviços continuam pavorosos. Na maior parte das vezes os cidadãos são atendidos da forma mais ríspida, arrogante ou preguiçosa possível, como se o servidor estivesse ali para prestar-lhe um favor.
O mais doloroso e contraproducente disso tudo, porém, é que esse enorme cabide de empregos privilegia os parasitas e os burocratas (talvez pela sua permanente proximidade com os políticos), em detrimento daqueles servidores que seriam realmente necessários para a sociedade, como médicos, professores e policiais. Enfim, este é o retrato do Brasil.