Num movimento inesperado para o mercado, as taxas de juros em operações de crédito ao consumidor interromperam em novembro uma sequência de quatro quedas consecutivas e inverteram o sinal. Pesquisa feita pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac) mostrou que, em seis linhas de crédito pesquisadas, somente o juro no rotativo do cartão de crédito manteve-se inalterado. Na média, a taxa de juro para pessoa física subiu de 5,50% ao mês em outubro para 5,63% em novembro. No ano, a taxa média ficou em 92,95%, a maior desde setembro de 2012.
O levantamento mostrou que os juros do comércio subiram de 4,10%, em outubro, para 4,30% em novembro. No cheque especial, a taxa passou de 7,75% para 7,92%. O juro do empréstimo para financiamento de automóveis subiu de 1,49% para 1,64%. Nos empréstimos pessoais em bancos, a taxa passou de 3,02% para 3,14% e nos empréstimos pessoais em financeiras saltou de 7,24% para 7,42%. No cartão de crédito, a taxa de juro se manteve inalterada em 9,37%.
Temor de aumento da inadimplência
O soluço dos juros pegou de surpresa tanto os consumidores que tomaram dinheiro emprestado no mês passado quanto os especialistas que vinham acompanhando a queda das taxas desde meados de abril. Entre as explicações para essa subida inesperada do juro, está o temor do aumento da inadimplência, que atualmente está em 7,9% para pessoa física.
– Existe o fantasma gerado em 2009 com a inadimplência dos financiamentos de veículos. Desde aquele ano, os bancos reformularam a maneira de conceder o crédito ficando mais restritivos. Agora, já com esse novo método, eles veem uma economia fraca, que continuará sofrendo nos próximos anos. Os bancos, portanto, estão prevendo esse risco. Na prática, o bom pagador arca com os calotes – explicou Willian Eid Júnior, professor de Finanças da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP).
O coordenador da pesquisa da Anefac, Miguel Ribeiro de Oliveira, concorda que a expectativa de aumento da inadimplência tenha desencadeado essa subida do juro. Tecnicamente, diz ele, não existe explicação para a alta do juro. Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa básica de juro (a Selic) não foi alterada e se manteve em 7,25% ao ano, assim como não houve redução da oferta de crédito.
– Ficamos surpresos com a alta, mas nossa expectativa é que o movimento de queda do juro do crédito seja retomado em dezembro, com maior concorrência entre os bancos e redução da inadimplência com a retomada do crescimento da economia – diz Oliveira.
Luis Miguel Santacreu, analista de bancos da Austin Rating, avalia que o aumento do juro não é expressivo. Santacreu acredita que a alta pode ser explicada por uma questão metodológica da pesquisa, que usa médias ponderadas do juro cobrado por 30 bancos para fazer o cálculo. Segundo ele, como os bancos privados, que emprestam a juros mais altos que os públicos, concederam mais financiamentos em novembro, a tendência é a média do juro subir.
– Se de fato esta for a explicação para a alta da taxa, o aumento mostra uma disposição maior das instituições privadas em emprestar como quer o governo – avalia.
Outra explicação para a elevação do juro ao consumidor pode ser atribuída ao aumento do custo de captação dos bancos. As taxas de juro de longo prazo foram mais altas no mês passado, segundo explica o economista Antonio Madeira, da LCA Consultores.
– O aumento do custo de captação ocorreu por uma pressão no mercado câmbio, com reflexo na inflação e nas taxas de juro futuras. Nesse cenário, os bancos pagaram mais para captar e repassaram aos clientes – diz Madeira, que prevê a retomada do movimento de queda das taxas em dezembro.
A alta de juros na véspera do Natal pode prejudicar consumidores como Rosilene de Oliveira, que pretende comprar uma cama nova.
– Vou usar meu dinheiro do décimo terceiro para acertar as contas. Com isso, vou poder voltar a comprar e quero uma cama nova dividida em dez vezes. Depois que passar o período de festas de fim de ano, aí quero comprar uma TV de LED de 42 polegadas – diz Rosilene
Fonte: “O Globo”, 12/12/2012
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