Pouca gente sabe, mas há bons indícios de que a teoria da relatividade esteja sendo revista. Cientistas do CERN – Organização Européia para Pesquisa Nuclear – estão analisando evidências de que algumas partículas subatômicas são capazes de locomover-se em velocidades superiores a da luz, algo que seria impossível, segundo Einstein. Caso confirmada, tal descoberta viria atestar, mais uma vez, que a verdadeira ciência é um processo contínuo, raramente conclusivo e, acima de tudo, despolitizado.
Ciência não é matéria sujeita a consensos ou escrutínios. Ao contrário, espera-se que as teorias sejam constantemente testadas e, se for o caso, falseadas. Imagine como seria a física hoje se Galileu não tivesse questionado a teoria aristotélica, se Newton não tivesse estendido e generalizado o trabalho de Galileu e Einstein estivesse plenamente satisfeito com as conclusões de Newton. Na verdade, o esforço para “negar” as teorias científicas é tão antigo e saudável quanto a própria ciência.
É assim que as ciências da natureza trabalham. Observações levam a hipóteses. Hipóteses são testadas através de experimentos. Os resultados são divulgados, examinados e duplicados antes que uma boa teoria seja divulgada. Certezas são raras, leis são muito poucas. Ciência não é fonte de autoridade, mas de conhecimento.
Cientistas não são deuses. São seres humanos sujeitos aos mesmos impulsos que todos nós. Einstein, por exemplo, queria tanto demonstrar que a teoria quântica era determinística e não probabilística que chegou a invocar o Todo-Poderoso: “Deus não joga dados com o universo”, teria dito o alemão, gerando a resposta jocosa de seu colega Nils Bohr: “Einstein, pare de dizer a Deus o que fazer”.
Esses mesmos impulsos humanos quase sempre nos levem a acreditar que estamos certos, ou pelo menos do lado certo. No entanto, isso não é desculpa para endossar métodos e comportamentos não científicos. Muitos cientistas subscrevem a teoria do Aquecimento Global Antropogênico sem que tenham feito qualquer pesquisa ou estudo mais aprofundado a respeito. Adotam tal postura simplesmente porque este seria o lado “in” da questão. Na maioria dos casos, é assim que o chamado “consenso” científico é estabelecido.
Infelizmente, estamos cercados de gente que diz saber muito mais do que realmente sabe. Quando essas pessoas sonham e fazem projetos contando com seu próprio tempo e dinheiro, tudo bem. O problema é que muitas dessas pessoas confiam tanto na própria sabedoria que pretendem impor aos demais os seus planos, utilizando-se para isso da força dos governos. Esses indivíduos sentem-se capazes de planejar cada detalhe de nossas vidas, não importa quão bem (ou mal) planejem as suas.
O antídoto contra o uso político da ciência é realçar a própria falibilidade científica, além de estimular o ceticismo. Não é justo, nem inteligente, sair por aí chamando de herético quem desconfia da atividade humana como causa do aquecimento global, ou duvida das catastróficas previsões dos computadores. Heresia tem a ver com fé, e ciência não é assunto de fé. A ciência não prescreve dogmas, nem evolui conforme a opinião da maioria.
Fonte: O Globo, 14/10/2012
Excelente texto.
A ciência sofreu atraso imenso com Galileu e Newton, formuladores de coincidências, apenas. Pior ainda foi a sociedade e a política enveredarem pela pretensa lógica. As forças opostas dispostas artificialmente lograram o ápice no confronto entre esquerda e direita, entre o marxismo e o nazifascismo.
Malgrado sucessivos ataques, a Teoria da Relatividade se mantém incólume. Ela tem tudo a ver com a ética, não com a dialética.
A ciência é realista. Platão, idealista.
Parabéns ao “GLOBO” e ao jornalista JOÃO LUIZ MAUAD pelo excelente artigo. Faz até bem para a saúde ler uma matéria com tanta ponderação como a presente. Infelizmente está ficando raro. Que o bom exemplo frutifique. Vou divulgá-lo o quanto puder. Conceitos como os emitidos não envelhecem, Ainda bem!
Parafraseando:
“Muitos articulistas rejeitam a teoria do Aquecimento Global Antropogênico sem que tenham feito qualquer pesquisa ou estudo mais aprofundado a respeito.”
A ciência em torno deste problema é vasta e amadurecida. Se as soluções em pauta não são do agrado, que proponham outras, mais palatáveis à liberdade e ao liberalismo. Negar o problema não o faz desaparecer.
Por outro lado, a abstenção dos liberais desta discussão não vai ajudar as soluções a respeitarem valores como liberdades individuais ou o livre mercado. Como disse Scott Denning em palestra no Heartland Institute: “Vocês estão esperando o Greenpeace defender o livre mercado?”
Parem de enfiar a cabeça na areia. As evidências se acumulam ano a ano. Proponham soluções que respeitem sua ideologia. Isso sim, seria desempenhar de fato o papel de defensores do liberalismo. Ou, de novo como disse o Scott Denning: “Vocês são covardes?”