Defender o capitalismo é tarefa inglória. Por várias razões. Primeiro, porque as várias interpretações equivocadas e aplicações inadequadas do termo acabaram por dividi-lo numa expressão pluridimensional. Assim, temos o capitalismo de livre mercado, o capitalismo marxista, o capitalismo de Estado, o capitalismo de compadres etc.
Se Marx não foi o criador nem o primeiro a usar o termo, foi quem lhe atribuiu, no célebre “O Capital”, o sentido negativo mundialmente reconhecido e utilizado, e opôs de forma hábil a distinção entre capitalista e trabalhador. Converteu o empresário, o dono do capital, numa entidade diabólica que age para explorar a mão de obra do oprimido trabalhador.
Diante dessa carga simbólica infame, defender o capitalismo de livre mercado é entrar num debate no qual o anticapitalista entra tentando direcioná-lo contra o seu defensor, que mesmo antes de expor uma defesa conceitual, substantiva e material, com dados empíricos a sustentar a teoria, precisa previamente se defender das acusações pessoais de odiar os pobres e os beagles, e elencar justificativas (que o interlocutor nem sequer considerará) sobre o que o capitalismo não é. O crítico pretende conduzir o debate em sua zona de conforto, e assim ignorar estrategicamente o que diz o defensor do capitalismo de livre mercado.
É um erro muito comum supor que o anticapitalista é um interlocutor intelectualmente honesto. A ingênua boa-fé do defensor do capitalismo é utilizada pelo seu crítico como uma fraqueza a ser explorada; como um macete para atingir a cabeça do inimigo ideológico. E assim o “debate” se converte numa doutrinação e num instrumento de sedução dos incautos em busca de utopias perdidas.
Não é uma coincidência o fato de muitos anticapitalistas serem intelectuais e/ou indivíduos que constroem suas vidas fugindo da realidade. Essa fuga, justamente o vínculo entre ambos, é alicerçada numa teoria utópica (geralmente socialista ou comunista) que a estrutura, legítima e que pavimenta a construção idealizada de uma realidade abstrata na qual o mundo concreto e as pessoas reais não são o que eles veem, mas o que gostariam de ver, como bem apontou o economista americano Thomas Sowell em seu excelente “Os intelectuais e a sociedade” (p. 182-184).
Com a sua peculiar definição de capitalismo, esses ideólogos militantes, muitas vezes disfarçados de professores, atribuem todos os males sociais, políticos e econômicos do mundo a um sistema que, ao contrário da imagem caricatural de estar a serviço das grandes corporações, bancos etc., é, na verdade, formado por todos nós que atuamos na iniciativa privada, do pipoqueiro ao megaempresário. Um sistema que, a despeito da representação ficcional, tem suas virtudes e vicissitudes, e que foi capaz de permitir que as pessoas pudessem se alimentar, empreender, prosperar, ter tempo para o lazer, ter acesso a produtos e a confortos inimagináveis séculos atrás.
Sempre que um anticapitalista exibir o arsenal de equívocos contra o capitalismo, tenha a certeza de que o prejudicado com a alternativa política e econômica que defende não será ele nem os seus companheiros de ideologia e/ou de partido.
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