A indústria apresentou em maio a terceira queda seguida da atividade, segundo dados divulgados nesta quinta-feira, 3, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Na comparação com o mês imediatamente anterior, com ajustes sazonais, é a terceira vez consecutiva que há retração dos indicadores industriais, com exceção das vendas reais do setor.
O gerente executivo de pesquisa e competitividade da CNI, Renato da Fonseca, reconheceu que o quadro da indústria é “desolador”, mas diz que já houve “crises piores”. Fonseca atribuiu a situação ruim da atividade industrial aos problemas de competitividade do setor. “A produtividade do trabalho não cresce há muitos anos e o custo do trabalho está crescendo. Você tem hoje um cenário de confiança da indústria muito baixa e dos consumidores também”, disse.
O crescimento da indústria está ligado à confiança, segundo a CNI, e os juros elevados e o difícil acesso ao crédito atrapalham. “A tendência é o ciclo se agravar, então tenho que dar choque para resolver isso. É preciso acelerar as medidas de combate ao custo Brasil”, disse Fonseca, acrescentando a necessidade de desonerar o investimento. Questionado sobre o recente anúncio do governo federal de prorrogação de medidas de apoio à indústria, ele argumentou que o problema anterior dessas medidas era a previsibilidade.
“Para o investimento crescer, você precisa ter segurança de que mecanismos de redução de custos são duradouros”, disse. Em julho, a CNI apresentará aos candidatos à presidência as demandas do setor industrial.
Os indicadores industriais de maio, quando comparados a abril, mostraram queda – exceto as vendas reais, medidas pelo faturamento do setor, que subiram 0,3%. Nessa base de comparação, as horas trabalhadas caíram 0,4%, o emprego recuou 0,3%, a massa salarial real apresentou queda de 0,9% e o rendimento médio real caiu 0,2%.
Na comparação com maio de 2013, as vendas caíram 1,9% e as horas trabalhadas recuaram 2,4%. Por outro lado, o emprego apresentou alta de 0,6% e a massa salarial subiu 0,5%. O rendimento médio real ficou estável.
No último boletim Focus, divulgado na segunda-feira, 30, os economistas apontaram que a produção industrial deve ter um recuo de 0,14% em 2014. A CNI, entretanto, prevê uma alta de 1,7% no PIB industrial neste ano, segundo documento divulgado em abril. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta quarta-feira, 2, que a produção industrial recuou 0,6% na passagem de abril para maio, o terceiro resultado negativo consecutivo, segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal. Apesar dos dados ruins, a CNI ainda não apresentou nova previsão para o crescimento do PIB industrial neste ano, que é de 1,7%, segundo documento divulgado em abril. Segundo Fonseca, novas projeções serão divulgadas em julho, no Informe Conjuntural.
Setores – De acordo com os dados da CNI, a utilização da capacidade instalada caiu na maioria dos setores em maio de 2014 ante o mesmo mês do ano passado. Só houve aumento da capacidade instalada em seis dos vinte e um setores pesquisados. A alta ocorreu em móveis, têxteis, bebidas, farmacêuticos, produtos diversos e outros equipamentos de transporte. Por outro lado, as queda mais acentuadas foram em impressão e reprodução, veículos automotores, alimentos e produtos de metal.
Veículos– O setor de veículos automotores foi o que apresentou a maior queda nas horas trabalhadas na produção e nas vendas reais em maio, segundo CNI. Houve recuo, respectivamente, de 15,9% e 15,3% na comparação de maio de 2014 com o mesmo mês do ano passado.
Segundo a CNI, esse resultado sugere “expressiva queda” no ritmo de atividade do setor. A queda na área de veículos foi mais intensa que a registrada para o setor industrial de modo geral, cujo recuo das vendas reais foi de 1,9% e de 2,4% nas horas trabalhadas. Também houve queda na indústria de veículos automotores de 5,4% na capacidade instalada, de 4,8% no emprego e de 12,9% na massa salarial.
Copa– Fonseca disse que os feriados devido aos jogos da Copa do Mundo podem atrapalhar a atividade econômica, mas lembrou que o impacto varia para cada setor. “O comércio, por exemplo, deve ter sentido mais que indústria”, disse. “Minha preocupação não é com junho. A preocupação é maior. A indústria não cresce desde 2010. Isso deixa claro que não estamos com problema conjuntural, e sim um problema de competitividade”, reforçou.
Folha: O Estado de S. Paulo
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