A devastação quase que completa da capital do Haiti não terá qualquer impacto sobre os resultados das seguradoras e resseguradoras internacionais. A razão para isso é simples: o Haiti, por conta da sua pobreza, contrata muito pouco seguro. Mas o que aconteceu lá, com certeza, está na ordem do dia dos estrategistas e formuladores das políticas de aceitação de risco das principais companhias do mundo.
Se os prejuízos do Haiti, da mesma forma que a devastação do tsunami que varreu a Ásia, não desaguarão em indenizações mais significativas, a mesma verdade não vale para um evento de igual magnitude que aconteça num país mais rico, onde o hábito de contratar seguros seja parte do cotidiano das pessoas.
Começando por Lisboa, que, para quem não sabe, foi completamente devastada por um terremoto no ano de 1755, o que aconteceria se um grande terremoto a varresse do mapa, deixando ruínas no lugar da cidade?Ou se Roma fosse atingida por um fenômeno deste tipo? Ou Tóquio, ainda que erguida com moderníssima tecnologia de construção para enfrentar com o mínimo de danos os terremotos que atingem o Japão? E o “Big One”, esperado desde o começo do século 20 pelos moradores da Califórnia?
Ao contrário do Haiti, estas cidades são tradicionais compradoras de seguros, entre eles os que dão cobertura para terremotos. Qual seria o prejuízo caso um terremoto reduzisse uma destas cidades ao estado de ruína em que se encontra Porto Príncipe?
A questão é de suma importância para o setor de seguros. A capacidade de suportar sinistros é limitada pela arrecadação de prêmios e pelo tamanho das reservas técnicas e varia para mais ou para menos em função da carteira e dos riscos.
É assim que as carteiras de seguros de incêndio têm mais capacidade do que as de transporte, mas isso não quer dizer que o mercado possa suportar indefinidamente os sinistros que o atinjam, ainda que as indenizações sendo geradas pelos seguros de incêndio.
Daí as seguradoras e resseguradoras terem limites máximos de aceitação de riscos. Com eles, elas delimitam suas responsabilidades e preservam a solvência necessária para fazer frente aos riscos assumidos.
O problema é que o terremoto que destruiu Porto Príncipe traz mais um dado negativo para um cenário que as alterações climáticas complicaram já faz alguns anos. Os custos dos fenômenos naturais vêm aumentando consistentemente ao longo do tempo. Áreas até agora imunes a danos maiores têm sido sistematicamente varridas por eventos inimagináveis até poucos anos atrás.
Quando a ocorrência se dá em países ou regiões pobres, as seguradoras não sentem seus efeitos diretos. Mas quando a região atingida é habitada por populações habituadas a contratar seguros, o quadro fica muito sério e cifras na casa dos bilhões de dólares se mostram insuficientes.
Terremoto não é um evento de origem climática. Ou pelo menos não diretamente. Mas qual o efeito das mudanças climáticas no movimento das placas tectônicas? Será que há relação entre o aquecimento dos oceanos e o aumento da velocidade das placas. Será que a mudança dos regimes de chuvas e ventos que atingem as cordilheiras afetam o movimento dos continentes?
São perguntas ainda sem respostas, mas que podem custar centenas de bilhões de dólares em poucos minutos.Não é por outra razão que determinadas áreas do planeta não têm seguros para determinados tipos de riscos.
Já citei outras vezes a região de Miami, que não tem cobertura para furacões, e o terremoto em L”Aquila, na Itália, que também gerou poucas indenizações para as seguradoras. Há situações que, pelas dimensões envolvidas, apenas os governos podem suportar. O setor de seguros sabe disto e justamente por esta razão se protege, negando cobertura a estes riscos.
Mas há várias partes do globo que contam com intensa proteção de seguros. Se o terremoto do Haiti for um aviso de que a natureza resolveu mudar de ritmo, estas apólices podem representar um risco capaz de atingir o limite do mercado
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