A possibilidade de a agência classificadora de risco Standard & Poor’s (S&P) rebaixar a nota do Brasil (BBB, considerada grau de investimento, ou seja, com risco mínimo para os investidores), após alterar sua perspectiva para negativa, em junho, é de “um para três”, afirmou ontem a presidente da empresa no Brasil, Regina Nunes. Segundo ela, em apenas uma ocasião, durante a campanha eleitoral de 2002, uma alteração para perspectiva negativa deixou de levar a um rebaixamento do rating.
O quadro foi abordado como foco de preocupações por economistas e executivos, que participaram de seminário sobre o tema ontem no Rio.
Para Regina Nunes, palestrante do evento organizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), a gestão da política fiscal é o principal problema. Superávits primários abaixo de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) deixam a economia brasileira mais frágil. “O espaço para queda de taxa de juros existiu e o governo soube aproveitar. Onde não se fez o trabalho foi na parte fiscal.”
Para Regina, o governo não cumpriu o compromisso com a meta de superávit das contas públicas e continuou fazendo políticas “contracíclicas” (com o objetivo de turbinar o crescimento em momentos de crise, como os cortes de impostos).
No entanto, a economia não cresceu. “Não cresceu porque está investindo pouco. O modelo de consumo se esgotou”, completou Regina.
Sinal amarelo. A remota possibilidade de o Brasil perder o grau de investimento também preocupa o ex-presidente da Vale, Roger Agnelli. Para o empresário, as atuais incertezas em torno dos rumos da economia brasileira deixam o País em posição mais fragilizada.
“Quando se tem a possibilidade, mesmo que remota, de perder o grau de investimento, temos a obrigação de acender o sinal amarelo, roxo ou preto. Precisamos agir antes que isso se torne realidade”, alertou.
O rebaixamento de um degrau na nota do Brasil, porém, não significaria a perda do grau de investimento. A nota imediatamente abaixo da BBB atual é BBB-, o mais baixo nível da categoria de grau de investimento.
Agnelli lembrou ainda que um rebaixamento no rating do Brasil significaria elevação no custo de capital, o que, segundo ele, seria “cruel” para o País nesse momento.
“O custo de capital afeta decisões de projetos e investimentos em infraestrutura”, ressaltou Agnelli.
Já o economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, defendeu a independência do Banco Central (BC), uma medida que, considera, teria impacto semelhante ao Plano Real.
Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da FGV, disse que o Brasil enfrenta uma crise de confiança recorrente e que os mercados internacionais estão menos tolerantes com o País do que com qualquer outro emergente.
PIB- A confiança do investidor não vai melhorar caso a revisão do crescimento da economia em 2012 mostre um desempenho mais forte, segundo Regina Nunes, da S&P.
Segundo ela, a credibilidade do País está desgastada por problemas fiscais, inflação elevada e falta de transparência. O IBGE divulga hoje o resultado do PIB do terceiro trimestre e as revisões de trimestres anteriores.
Fonte: Estado de S. Paulo
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