Na catedral do Supremo, como pavões de multicolorida cauda, se alongam nos votos, amando ouvir a própria voz
Em 2012, o ministro Luiz Fux confessou à colunista Mônica Bergamo que pediu apoio a Palocci para chegar ao STF. “Toda vez que concorria, o procurava.” Fux finalmente chegou ao sonhado Supremo, com apoio de Palocci. Agora, começam as pressões para que se declare suspeito para julgar o habeas corpus de Palocci no pleno do Supremo, o que aumentaria o poder liberatório de Gilmar, Toffoli e Lewandowski. Ou faça como no mensalão, sendo duro com os acusados que o apoiaram, e negue-o.
Se votar pelo habeas corpus a Palocci, Fux evita sua delação premiada e abre caminho para a liberação geral. Mas quem terá coragem de pedir a sua suspeição e levá-la a julgamento no pleno do STF?
No mensalão, ninguém contestou a suspeição de Dias Tofolli, ex-advogado do PT, para julgar — e absolver — José Dirceu, que o levou à Casa Civil, à Advocacia-Geral da União e ao STF.
Mesmo reprovado para juiz de primeira instancia, o que poderia indicar carência do “notório saber jurídico” exigido para a suprema função, mas com o apoio de Dirceu e Lula, foi facilmente aprovado pelo “exigente” Senado de Renan e Sarney e, junto com Lewandowski, foi o mais brando em condenações no mensalão, e agora na Lava-Jato. Normal, no Brasil.
Nada contra juízes. Meu avô foi catedrático de Direito Constitucional na Faculdade de Direito de São Paulo e ministro do Supremo indicado por JK, e há dois anos namoro uma juíza mineira… rsrs. Admiro muito alguns juízes, mas é um contraste interessante imaginar homens e mulheres vaidosíssimos de seu poder pessoal e institucional de vida e morte, de sua suma sabedoria, buscando apoio político para chegar ao Supremo, bajulando políticos de quinta categoria que, no fundo, desprezam, bravateando e acenando com lealdade e gratidão em futuros votos, e os políticos corruptos fingindo que acreditam.
Na catedral do Supremo, quase todos são exibidos como pavões de capa preta e multicolorida cauda, se alongando nos votos, amando ouvir a própria voz, contestando maiorias para ganhar atenção… enfim, são humanos, mas também são brasileiros.
Está em suas mãos o destino da Lava-Jato e do Brasil.
Fonte: “O Globo”, 05/05/2017
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