Quarta-feira foi um dia de intensa volatilidade nos mercados. O grande “divisor de águas” foi a intervenção da ala populista do governo no Congresso, defendendo deixar de fora a Bolsa Família do “teto de gastos”, proporcionando ao governo alguma flexibilidade no remanejar de R$ 40 bilhões do Orçamento. Isso em ano eleitoral (2022) seria uma dádiva. O problema é que o mercado reagiu contra. A bolsa de valores chegou a recuar mais de 3,3%, o dólar “esticou” a R$ 5,77 e a curva de juro explodiu. Ao fim, diante do “nervosismo” do mercado, Artur Lira recuou e tirou esta flexibilização de regras da pauta.
Foi votada em primeiro turno no Senado a PEC Emergencial, mantido o gatilho do congelamento de salários de servidores, se estas despesas passassem de 95% do total e esta retirada da Bolsa Família ficou congelada. Placar foi tranquilo, 62 a 16 e nesta quinta-feira teremos o segundo turno. Não sabemos como serão as negociações. O que se comenta é que se este “casuísmo” passasse, talvez hoje estaríamos especulando mais uma terra arrasasa, sem saber quem assumiria o ministério da Economia. Boa parte dos técnicos da equipe de Paulo Guedes ameaçaram sair ontem.
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O que nos parece fato é que Bolsonaro já percebeu que sua popularidade responde positivamente à esta distribruição de auxílios emergenciais. Parece óbvio que ele tentará esticar isso ao máximo. Para esta “rodada”, a previsão é de doar auxílios, entre R$ 250 e R$ 375, a 45 milhões de brasileiros em situação de fragilidade (sendo beneficiado um membro da família).
Em paralelo, a pandemia continuava a causar estragos. Nesta quarta-feira passaram de 1,9 mil mortes, com o total já ultrapassando os 256 mil. Na pressão, Pazuello tratou de fechar encomendas de vacina com a Pfizer e a J&J. O problema é que estas só devem começar a vir até o fim do primeiro semestre. Em paralelo, seguem as pressões pelo lockdown em vários estados, com São Paulo iniciando a fase vermelha agora neste sábado. A verdade, é que boa parte deste mal humor do mercado também se explica pelo total desgaste do governo Bolsonaro, muito acusado de não criar um maior clima de solidariedade e cooperação entre os entes federativos. Sua negação ao óbvio só piora o clima de revolta e consternação diante do crescimento de óbitos.
No exterior, alguma expectativa acontece diante dos comentários do presidente do FED Jerome Powell
e os indicadores chamam atenção, como os de emprego, diante do comportamento dos Treasuries Bonds, e a trajetória do juro.
Comportamento dos ativos
Bolsas no Brasil e no exterior em alta moderada; no Brasil, B3 deve se manter volátil, mas em tendência de alta, depois da aprovação da PEC Emergencial em primeiro turno no Senado. Falta agora o segundo turno e preocupa a bateção de cabeça entre Guedes e Bolsonaro e a piora da pandemia. Lá fora, o pacote fiscal de US$ 1,9 trilhão deve ser votado no Senado, depois de aprovado na Câmara dos Representantes. e aguardemos os depoimentos do presidente do Fed Jerome Powell. Amanhã é dia de payroll.
Bons negócios a todos!
Fonte: “JHN Consulting”, 04/03/2021
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