Vista num primeiro momento como a perda para a Argentina e para o Japão do controle de uma das companhias mais emblemáticas do parque siderúrgico brasileiro, a compra de quase 28% da Usiminas pelo grupo argentino Techint deve ser encarada como um dos melhores finais possíveis para uma novela que vinha se desenrolando há mais de um ano.
Com os argentinos da Techint na jogada, a siderúrgica mineira pode dar por encerrada a era dos acionistas com objetivos estratégicos diferentes com a qual convivia mesmo antes da privatização.
A Usiminas, que foi a primeira grande venda do programa de desestatização no governo de Fernando Collor de Mello, em 1991, pertencia ao governo, por meio do extinto sistema Siderbrás, e a um consórcio japonês chamado Nippon Usiminas. Os dois acionistas não se entendiam, e os japoneses, no final dos anos 1980, chegaram a levar o governo brasileiro à Justiça por se considerarem lesados nos aumentos de capital que reduziram sua participação.
A privatização pôs fim às desavenças. No primeiro momento, a siderúrgica Nippon Steel, que assumiu sozinha a parte japonesa da Usiminas, passou a compartilhar o controle com o Clube dos Empregados da Usiminas, com a Vale do Rio Doce, o Bradesco e o Banco Bozano, Simonsen. Os dois grupos financeiros, fiéis a seu estilo, tinham uma visão de curtíssimo prazo sobre o negócio.
No momento seguinte, as ações dos bancos e da Vale passaram para as mãos dos grupos brasileiros Votorantim e Camargo Corrêa – que não tinham a mesma urgência em remunerar o investimento mas que, também, não pensavam a longo prazo.
Agora, com o controle compartilhado por duas empresas do ramo, os executivos da Usiminas acreditam ter o que comemorar. Em primeiro lugar, acham que o fim das visões divergentes no grupo de controle terá benefício enorme sobre a companhia.
“Se isso ajudar a melhorar o clima na empresa, a gente está até disposto a dizer que Maradona era tão bom quanto Pelé”, diz um alto executivo da Usiminas, brincando com um assunto que, de fato, divide as opiniões de argentinos e brasileiros.
Talvez não seja necessário chegar tão longe. As duas empresas têm uma série de pontos em comum. A Tenaris Confab, subsidiária da Techint – uma das empresas em nome das quais a compra foi feita -, é um cliente tradicional da Usiminas.
A empresa tem na cidade paulista de Guaratinguetá uma usina especializada na produção de tubos de aço e conta como clientes, por exemplo, a indústria de petróleo e gás. Algum tempo atrás, ela chegou a consumir o equivalente a um mês da produção anual da Usiminas, algo entre 500 mil e 600 mil toneladas por ano.
O volume caiu nos últimos tempos, mas pode voltar a crescer tão logo a Usiminas conclua o desenvolvimento de uma liga de aço especial de alta pureza, capaz de suportar condições extremas de pressão e corrosão, como é o caso da camada do pré-sal. Esse aço vem sendo desenvolvido em Ipatinga e ainda exigiria investimentos pesados no processo de transformação da chapa em tubos.
Agora, esse novo investimento não será mais necessário, pois é justamente essa a especialidade da Confab. Pode parecer pouco, mas é suficiente para mostrar que a sinergia entre as duas organizações pode alcançar um nível elevadíssimo. Para o bem da economia e da concorrência.
Fonte: Brasil Econômico, 29/11/2011
9 Comments