A revista VEJA desta semana tem uma matéria sobre o livro Scroogenomics, do economista americano Joel Waldfogel, bem interessante. Em todo Natal bilhões de dólares são destruídos no mundo todo. “A cada dezembro, presentes ruins transformam em pó algo em torno de 25 bilhões de dólares ao redor do mundo”, diz. “Isso faz do Natal uma das mais formidáveis máquinas de destruição de valor já criadas pela humanidade”. Eis a passagem que merece destaque:
“A ideia central de Waldfogel tem a ver com o conceito de valor que é diferente do de preço. O valor de um produto tem algo de subjetivo. Está relacionado à satisfação que ele proporciona. Um gasto é bom para o consumidor final quando a satisfação obtida com o produto excede o preço pago. Na situação inversa, destrói-se valor. Embora às vezes a percepção de nossos próprios interesses possa ser turvada, de maneira geral, diz Waldfogel, quando saímos de casa para comprar uma roupa ou um CD, sabemos escolher direito. Mas, quando outras pessoas escolhem por nós, a relação entre valor e preço fica negativa.”
Desde Carl Menger sabemos que o valor é subjetivo. Esse é um dos pilares mais importantes da Escola Austríaca, fundada por Menger. Partindo dessa lógica, fica até bastante óbvio concluir que presentes de Natal acabam destruindo valor. Afinal, o preço pago por quem compra o presente dificilmente será equivalente ao valor extraído por quem o recebe. Se a própria pessoa pudesse escolher, usando a mesma quantia, sem dúvida saberia melhor o que ela mesma prefere. Por isso os “vale-presentes” estão ficando mais comuns, apesar de parecerem mais “frios”.
“Dar dinheiro seria mais simples, mas na maioria dos países há um estigma associado aos presentes em dinheiro. Em certas situações, eles são considerados até mesmo rudes”, diz Waldfogel. Mas isso não muda o fato de que seria mais eficiente, do ponto de vista do valor gerado para a sociedade.
Faltou apenas à reportagem concluir o óbvio, indo além na mesma lógica: não apenas presentes de Natal destroem valor, mas e principalmente, os gastos públicos são as verdadeiras máquinas de destruição de valor! No caso do presente, ainda temos a boa intenção de quem compra, que conhece o beneficiário e deseja agradá-lo. Mesmo assim não há garantia de sucesso. Mas no caso dos gastos do governo a situação é muito pior. Não só quem gasta não se importa muito com quem supostamente recebe os benefícios dos gastos, como não é ele quem paga a conta.
Os gastos do governo são problemáticos justamente por esta característica: governantes vão às compras usando o dinheiro da “viúva”, retirado na marra, sem consentimento, e não estão muito preocupados com os benefícios gerados por tais gastos. Não são santos, afinal de contas, mas indivíduos que buscam a satisfação de seus próprios interesses. Na verdade, existe um grande incentivo à corrupção, quando governantes gastam o dinheiro dos outros com si próprios. Até um carro oficial para levar uma cadela sozinha pode resultar disso!
Se o presente de Natal pode ser ruim para a economia, como tenta mostrar Waldfogel, imagine o grande presente de Grego que é o gasto público!
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