Os três principais candidatos a presidente, Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) participaram ontem de encontro realizado pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Os candidatos convergiram ao afirmar que há gargalos na Infraestrutura que prejudicam o aumento da produtividade e prometeram solucionar o problema com medidas mais ágeis. Campos e Aécio centraram seus discursos em críticas à gestão de Dilma.
A presidente fez um balanço de sua gestão, afirmando que atendeu às demandas do setor. Ela sinalizou com a revisão das normas de demarcação das terras Indígenas. Aécio defendeu o direito à propriedade e a interlocução com os movimentos do campo, citando o MST. Ele acenou com a criação de um superministério da Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Pesca, sendo muito aplaudido pelos empresários.
Eduardo Campos disse que o governo atual paralisou as reformas no campo, prometeu aumentar os subsídios ao setor, mas não escapou de uma saia justa. Foi questionado pelos empresários sobre o fato de sua vice, Marina Silva, ter feito uma gestão de ambientalista radical quando ministra do Meio Ambiente de Lula. Campos colocou panos quentes, afirmando que ela é uma mulher que preza o diálogo.
Na avaliação dos empresários do agronegócio, Aécio foi o que mais agradou. Dilma se limitou a prestar contas de sua gestão e Campos tentou agradar sua vice e os empresários do setor, resvalando para um discurso retórico e evasivo. Os empresários reclamaram bastante da insegurança jurídica que atrapalha a realização de negócios. E para o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja), Almir Pasquale, o único candidato que afirmou categoricamente que irá resolver esse problema foi Aécio.
– A prioridade do próximo governo para o agronegócio deve ser atacar a questão da insegurança jurídica no país. Quando você toca nesse assunto, você mexe não só com a vida do cidadão brasileiro, mas tem a ver com investimentos e com pessoas que vêm ao nosso país querendo investir e não tem alguém que lhes diga que a nossa Constituição vai ser cumprida. Um candidato apenas disse que vai pôr um ponto final nisso, os outros ficaram na área política. Foi o segundo candidato (a falar) – disse, referindo-se a Aécio.
Prestação de contas
A presidente Dilma usou o documento entregue previamente aos presidenciáveis pela CNA com os problemas que o setor enfrenta como cartilha. E tentou rebater ponto a ponto as falhas que os produtores identificaram. Numa longa prestação de contas, Dilma apresentou dados que tentavam demonstrar o esforço de seu governo para atender às demandas dos Agropecuaristas.
Com relação ao Crédito Agrícola, por exemplo, Dilma procurou demonstrar que houve um grande avanço e que hoje, entre o agronegócio e a Agricultura familiar, o governo oferece R$ 180 bilhões em linhas de crédito para investimento e custeio. Ela comparou a safra estimada para 2014/2015 com a colhida no último período do tucano Fernando Henrique Cardoso (2001/2002), dizendo que houve aumento de produtividade superior a 40%.
– Na safra de 2001/2002, nós produzimos 100 milhões de toneladas de grãos em 37,8 milhões de hectares. Na safra de 2014/2015, nós estimamos uma produção de 200 milhões de toneladas em 58 milhões de hectares. Esses números representam um salto de produtividade de mais de 40% – pontuou.
Ela também abordou o tema seguro Agrícola, que gera grande insegurança dos produtores, dizendo que no seu governo a cobertura saiu de um patamar de R$ 280 milhões para R$ 700 milhões na última safra. Segundo ela, aprimorar o seguro tem sido uma prioridade sua.
A disputa entre o governo e o agronegócio por conta da demarcação de terras Indígenas também foi abordada por Dilma:
– A questão das terras Indígenas é um dos nossos desafios. Determinei ao Ministério da Justiça que faça uma revisão nas normas a fim de que o processo de demarcação de terras Indígenas possa garantir maior transparência e maior segurança jurídica.
Superministério da Agricultura
Com um clima mais favorável do que o manifestado pelos empresários presentes em relação a Eduardo Campos e Marina Silva (PSB-Rede), que falaram primeiro, o candidato do PSDB, Aécio Neves, prometeu a criação de um superministério da Agricultura, Pesca e Abastecimento; a recuperação e transformação da Embrapa no maior órgão de pesquisa do Brasil, rigor na desocupação de terras invadidas e respeito a súmula do Supremo Tribunal Federal em relação ao processo de Raposa Serra do Sol, para disciplinar os conflitos e demarcações de terras Indígenas.
– Criarei um superministério da Agricultura, vou incluir a pesca novamente, e outras ações que poderão ser incorporadas. O Ministério da Agricultura terá assento em igualdade de importância junto aos ministérios da Fazenda e do Planejamento. Não será mais subordinado aos ministérios nem ao Banco do Brasil. No meu governo, quem definirá a estrategia da pecuária e Agricultura serei eu. O ministério sairá definitivamente do balcão de negócios ao qual está submetido hoje – disse Aécio.
Aécio e o vice Aloysio Nunes foram aplaudidos de pé por vários minutos após a exposição da plataforma de governo para o setor. O candidato prometeu ainda cumprimento rigoroso da lei no caso de invasões de terras e uma revolução Logística que priorize a construção de hidrovias e ferrovias.
Ao criticar o que classificou de omissão da administração petista de Dilma Rousseff, Aécio disse que o agronegócio vai bem não por causa do governo, mas apesar da atual gestão. O tucano disse ser crime de lesa pátria o desmonte do setor do Etanol e sucroalcooleiro, e citou as mais de 40 usinas que foram fechadas ou que estão em liquidação judicial, causando desemprego no setor. Aécio prometeu também resgatar segurança jurídica no campo com coragem.
Disposto a dissuadir o mal-estar provocado por posições consideradas radicais e pelo veto de Marina Silva a lideranças ligadas ao agronegócio, Campos fez questão de levar sua candidata a vice para tentar uma reaproximação com o setor.
Proposta de diálogo
Campos prometeu acabar com o que chamou de balcão político no Ministério da Agricultura, hoje ocupado por Neri Geller (PMDB), modernizar e agilizar o crédito rural, institucionalizar as políticas de preço mínimo e regulamentar o artigo da Constituição que trata das cooperativas. Na Infraestrutura e Logística – estradas, ferrovias, hidrovias, energia – prometeu colocar alguém que transforme projetos em obras.
– Venho oferecer um diálogo franco, objetivo, de quem vai respeitar a posição de todos que têm visão diferente mas construir entendimentos. Não faltará diálogo com o agronegócio da nossa parte – disse Eduardo em sua exposição.
O candidato do PSB disse que conflitos no campo poderiam ser solucionados com mediação do governo.
– Houve uma paralisação das ações no campo, no que tange à reforma agrária, terra indígena e unidades de conservação – afirmou.
Fonte: O Globo
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