Os governos deveriam iniciar uma nova onda de privatizações, dessa vez baseada em propriedades
Imagine a si mesmo atolado em dívidas, detentor de um grande portfólio de ativos e propriedades subutilizadas e com dificuldades de reduzir os gastos — situação bastante parecida com a maioria dos governos ocidentais. Você não pensaria em se desfazer de parte de seus ativos?
Os políticos tentam viabilizar privatizações em diferentes épocas por diferentes razões. Na Grã-Bretanha na década de 80 Margaret Thatcher a utilizou para reduzir o poder dos sindicatos. Os países do leste europeu fizeram uso dela alguns anos depois para desmantelar a estrutura de economias planificadas. Hoje em dia, com a dívida pública atingindo seu maior nível em tempos de paz em economias avançadas, a principal razão é levantar fundos.
Os contribuintes podem pensar que as melhores pratas da família já foram vendidas, mas ainda há muitas no armário. As empresas estatais dos países da OCDE valem cerca de US$ 2 trilhões. Em seguida há posições minoritárias em empresas, além de US$ 2 trilhões ou mais em concessionárias e outros ativos em posse de governos locais. Mas os verdadeiros tesouros são os ativos não financeiros — prédios, terra, recursos subterrâneos — cujo valor é estimado pelo FMI em média como 75% do PIB em países ricos: US$ 35 trilhões entre todos os membros da OCDE.
Alguns desses ativos não poderiam ou deveriam ser vendidos. Qual seria o preço do Louvre, do Parthenon ou do Parque Nacional de Yellowstone, por exemplo? A contabilidade opaca dos governos faz com que seja difícil entender o quanto do total cabe a esses tesouros. Mas está claro que a lista completa inclui milhares de grupos de empresas que podem ser vendidas e cujo valor histórico é baixo ou nulo.
O governo federal americano é dono de quase 1 milhão de prédios (dentre os quais se verificou em uma auditoria de 2011 que 45 mil não eram necessários ou estavam sendo subutilizados) e cerca de 20% da terra do país, sob a qual se encontram vastas reservas de petróleo, gás e outros minerais; a revolução americana do fraturamento hidráulico (“fracking”) se deu até agora inteiramente em terras privadas. O maior estoque de valor não-explorado do Estado grego se encontra em seus mais de 80 mil prédios e terrenos sem valor histórico. Considerando que os espanhóis detêm apenas uma casa de veraneio para cada 100 habitantes, a Grécia provavelmente conseguiria atrair empreiteiras e outros investidores caso o preço fosse bem posto. Analistas da PwC estimam que a Suécia possua propriedades vendáveis cujo valor total vai de US$ 100 a 120 bilhões. Caso isso se reproduza por toda a OCDE, os seus governos estão sentados sobre um estoque de prédios e terras vendáveis que pode chegar a US$ 9 trilhões — o equivalente a quase um quinto das dívidas brutas desses países somadas.
Fonte: Opinião & Notícia (The Economist)
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