O livro “A batalha pela alma dos Beatles” (Nossa Cultura, 2013), pode ser lido não apenas como um relato a respeito da agonizante separação daquela que é considerada a maior banda de rock de todos os tempos.
A narrativa de Peter Doggett pode ser encarada sob o ponto de vista do empreendedorismo. E, ao fazê-lo, o leitor mais atento perceberá uma série de erros dos quatro rapazes de Liverpool no exato momento em que decidiram criar a Apple Corps, uma empresa multimidiática que tinha tudo para dar certo, mas que fracassou com louvor.
O primeiro erro constatado pelo autor é a falta de objetividade da empresa. A Apple Corps nasceu como uma gravadora, mas também havia ali, por exemplo, uma divisão de invenções, capitaneada por Alexis Mardas. Grego de nascimento, Magic Alex, como ficou conhecido em Londres na década de 60, ganhou dos chefes a incumbência de criar o mais inovador estúdio de gravações até então visto. Algum tempo depois, e após o investimento de muito, muito dinheiro, engenheiros de som ingleses chegaram à conclusão de que o estúdio entregue simplesmente não ‘funcionava’. Em outras palavras: não poderia ser usado por músicos por uma série de questões técnicas ignoradas por seu idealizador na concepção do projeto.
No livro, Doggett também menciona que muitos dos gastos pessoais de diversos funcionários eram inadvertidamente incorporados ao orçamento da empresa – com a vaga esperança, relata o autor, de que eles não seriam notados. Foram.
Mais do que isso, ‘A Batalha pela alma dos Beatles’ deixa clara a falta de comando da empresa. John, Paul, George e Ringo mandavam ao mesmo tempo na corporação. Ditavam ordens e regras. E isso tinha um preço: a confusão dos funcionários, que frequentemente não sabiam qual caminho trilhar. Sem contar o aparente amadorismo que envolvia a corporação. Segundo Doggett, uma pessoa simpática que visitasse a Apple poderia sair de lá com uma coleção completa de discos, sem que houvesse efetivamente uma troca de dinheiro envolvida na operação.
A falta de objetividade e a ausência de comando por parte dos proprietários, no entanto, pareciam coisa pouca diante do principal problema dos músicos/empreendedores: o fim da sociedade. O ponto alto do livro está na capacidade do autor em relatar o turbilhão de brigas entre os quatro rapazes de Liverpool. Eles não queriam estar mais juntos. George havia abandonado uma sessão de gravações após um sério desentendimento com John.
Pouco tempo depois, Lennon pularia o portão da casa de Paul e discutiria aos berros com o ‘amigo’ sobre a falta de comprometimento de McCartney – sem avisar ninguém, o músico simplesmente deixara os três companheiros de banda esperando no estúdio para uma gravação. Isso sem contar todos os problemas causados pelo então recente relacionamento de Lennon com Yoko Ono.
A magia havia ido embora, a afinidade havia sido perdida e os objetivos não eram mais os mesmos. Por isso, como imaginar que uma sociedade nos negócios entre eles daria certo?
Aprender sobre empreendedorismo lendo história dos Beatles é um mamão com açúcar!