Nas últimas semanas, o assunto no setor de energia foi a volta dos apagões. A primeira discussão foi semântica: estaríamos diante de um apagão ou de um blecaute. Essa dúvida é sempre disseminada no âmbito do governo para tentar convencer a opinião pública de que apagão é coisa de incompetentes, no caso o governo FHC.
Enquanto blecautes seriam acidentes que são normais de acontecer e que, portanto, não deveriam ser uma grande preocupação da sociedade, pois seriam inevitáveis.
Todo esse blá-blá-blá esconde o fato que desde o apagão no governo FHC, até os dias presentes o setor elétrico apresenta fragilidades e falta de modernidade que poderão transformar os apagões ou blecautes em rotina.
Isso não pode ocorrer num país que pleiteia ser uma das maiores economias do mundo, que atualmente é o “darling” dos investidores externos e que possui uma das tarifas mais elevadas do setor mundo, com uma carga tributária no valor de 50% do total da tarifa.
A economia brasileira vem se modernizando. No ano passado teve um crescimento econômico acima dos 7%, a projeção para os próximos anos é de 5%, o que vai significar a entrada a cada ano de 5.000 a 6.000 MW, a população tem cada vez mais acesso a equipamentos que consomem energia elétrica e o setor elétrico está velho e não acompanha as transformações ocorridas na economia brasileira.
Para modernizar esse setor é preciso ter coragem de efetuar mudanças profundas em todos os segmentos que compõem a cadeia de energia elétrica. Na geração precisamos elaborar regras e procedimentos para que tenhamos no país um sistema hidrotérmico.
A oferta de energia primária no Brasil mudou, é preciso entender que não somos mais um país que gera energia elétrica somente com hidrelétricas com grandes reservatórios.
As novas hidrelétricas por razões ambientais, e aqui não vou entrar na discussão sobre se são certas ou erradas essas demandas, terão daqui para frente reservatórios pequenos e, portanto, necessitarão de complementação térmica.
Nós temos o privilégio de ter o gás natural, em terra e no mar. Esse gás em terra na Amazônia, na bacia do São Francisco, na bacia do Parnaíba poderá ser transformado em elétrons com a construção de usinas próximas aos campos de gás.
Por exemplo, o gás da Amazônia poderá firmar energia das usinas do rio Madeira, bem como a partir de 2014, com a conclusão da linha Tucuruí-Manaus levar energia elétrica para o Nordeste.
O gás natural do mar poderá ser liquefeito e com isso criar-se uma arbitragem onde esse gás poderá ser consumido no Brasil ou exportado.
Além do mais, temos a entrada na matriz elétrica de fontes como eólica, biomassa, carvão, nuclear e futuramente com certeza a energia solar.
O grande dever de casa do atual governo será alterar as regras de despacho e de comercialização do setor elétrico, para que com isso possamos construir uma matriz mais diversificada que atenda os requisitos de segurança de abastecimento e modicidade tarifária.
Fonte: Brasil Econômico, 17/02/2011
gosti mto, um assunto sério tratado com clareza!