No fim da semana passada, alguns jornais publicaram – em tom de perplexidade – que o governador de Minas Gerais, Antonio Augusto Anastasia, eleito pelo PSDB (ou seja, um partido de oposição), defendeu uma convivência civilizada com o governo da presidente Dilma Rousseff, do PT.
E que, de acordo com a visão do governador, a tarefa de se opor ao Planalto deve ser entregue ao Congresso. A pergunta é: que mal há nesse tipo de raciocínio? Cada um nos limites de seu cargo, tanto Dilma quanto Anastasia têm responsabilidades que independem de seus partidos.
Esperar relacionamento conflituoso entre os dois seria o mesmo que dizer que os cidadãos de Minas Gerais (assim como os de São Paulo, do Paraná e de outros estados) merecem castigo apenas por não ter escolhido para o governo local um político alinhado com o governo federal. Ninguém lucraria com esse tipo de enfrentamento.
Da mesma forma que Anastasia foi escolhido pela grande maioria dos mineiros já no primeiro turno, Dilma saiu-se, ali, muito melhor do que o tucano José Serra no segundo turno das eleições presidenciais. Só para recordar: o governador recebeu mais de 62% dos votos.
E a presidente obteve, em Minas, 58% no segundo turno. Não é o caso, portanto, de punir os mineiros com algum tipo de restrição administrativa ou orçamentária, assim como não é o caso de punir os gaúchos que deram a Dilma menos votos do que a Serra – mas que, ao contrário dos mineiros, elegeram um petista, Tarso Genro, para o governo estadual.
A democracia no Brasil, embora tenha mais de duas décadas, ainda é recente. Muita gente ainda se deixa levar por clichês do tempo da ditadura, quando era legítimo que governadores eleitos pelo voto fizessem oposição aberta ao governo federal.
Hoje, isso já não faria sentido. Cabe, sim, às bancadas dos partidos no Congresso, debater as questões, estabelecer diretrizes e, no caso da oposição, fiscalizar e propor soluções diferentes das que brotam do Executivo.
À presidente e aos governadores cabe governar – e governar da melhor forma possível, de forma a beneficiar a maior quantidade de pessoas.
Fonte: Brasil Econômico, 24/01/2011
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