Calma, petistas! Não precisam correr para aquele “adevogado” militante, pedindo que processe este humilde escriba. Quando chamo Lula e sua prole de porcos, não o faço com o fim de achincalhar, ou escarnecer (quem acredita na revolução socialista, precisará correr pro dicionário pra entender essas palavras…). Meu objetivo é apenas tomar emprestada a imagem da família Silva mais famosa, para ilustrar o monumental “A revolução dos bichos”, de George Orwell.
Em seu famoso livro, um verdadeiro tratado contra todos os totalitarismos revolucionários, Orwell falou de uma fazenda onde os animais, capitaneados pelos porcos, destituíram os homens do comando e assumiram o poder. Nenhum bicho seria explorado! Nenhum ser humano jamais tornaria a se beneficiar com os frutos do trabalho produzido pelos animais! “Four legs good. Two legs bad.”, escreveram os porcos no celeiro da fazenda, para lembrar a todos os bichos que os homens eram os inimigos.
Mas eis que as brisas do poder cuidaram de turvar os sentidos daqueles suínos, que rapidamente descobriram que assumir o posto dos homens lhes concedia um status ainda maior. Passaram a dormir nas camas dos humanos e a usar as roupas deles, até chegarem ao ponto de aprenderem a caminhar sobre as patas traseiras, como faziam as pessoas. “Four legs good. Two legs better.”, foi o novo lema. E os demais bichos? Bom, continuaram sendo explorados, mas agora de forma ainda mais cruenta.
A síntese do livro de Orwell – que recomendo vivamente a todos – é a seguinte: “todos são iguais, mas uns são mais iguais que outros“. A frase, aparentemente um despropósito lógico, encerra em si mesma o alicerce primordial de todos os tais “movimentos de massas”, que acabam, invariavelmente, por corromper a essência do ser humano, terminando por subjugar o indivíduo e suas liberdades. “Não haveria totalitarismos se não fosse pelas massas e suas rebeliões”, aprendi com Ortega y Gasset ainda criança, num dos primeiros “livros de verdade” que li – e que ajudaram e libertar a única coisa que deve ser libertada por meio do estudo: a inteligência.
Uma das marcas da tal “era Lula” é sem dúvida a idéia de que todos são iguais, mas os “cumpanhêros” – essa nova “craçe çoçial” criada a partir da lava primordial em que se lambuzaram o sindicalismo baderneiro, o centralismo stalinista e aquela escatologia que gente como Leonardo Boff insiste em chamar de “teologia” -, são “mais iguais” que o restante. Daí decorre a abominação jurídica e moral que foi a concessão de passaportes diplomáticos pra família de Lula. Uma vergonha! As instituições do Estado de direito sendo diminuídas à luz do dia, em benefício de pessoas. Aquilo que deveria igualar a todos, sendo varrido para debaixo do tapete, em nome dos luxos de alguns.
A simples possibilidade de se conceder passaporte diplomático para os parentes das autoridades no exercício do cargo é, a meu aviso, uma excrescência! Eu entendo perfeitamente que o Presidente do Brasil precise entrar com agilidade em qualquer país, sem ser detido pelos normais procedimentos das autoridades de fronteira. Mas não entendo por que os filhos dele devam gozar da mesma prerrogativa. Mesmo porque, em última análise, sempre que o chefe de Estado viaja em razão do seu cargo, não há justificativa para que a parentalha o acompanhe. E caso a viagem se dê a outro título, que não ligado aos deveres funcionais, por que motivo ele deveria ter privilégios?
Enfim… Essa é só mais uma das aberrações que os indivíduos livres são forçados a toleram por essa ficção jurídico-legal conhecida como “Estado”. O mundo ocidental, surpreendentemente, custa a perceber que é o indivíduo e suas liberdades que garantem o avanço da civilização, não o culto a um ente abstrato e às pessoas que, transitoriamente (ou não…) o encarnam. Em outras palavras, seria preciso parar de bajular com olhos marejados os que exercem o poder público, entregando-lhes benesses como os tais passaportes diplomáticos, e começar a tratá-los como aquilo que são: empregados. Inclusive demintindo-os sempre que necessário. Mas divago… Retomo.
O escândalo jurídico e moral mais assustador é que foram concedidos passaportes diplomáticos à caterva lulista no apagar das luzes do mandato presidencial do apedeuta, isto é, para serem usados depois de o petista ter deixado o cargo. A ilegalidade do ato é tão escandalosa quanto o silêncio cúmplice das instituições que deveriam guarnecer a democracia. Vou além: algumas das manifestações contrárias ao episódio chegam a ser embaraçosas, como no caso da OAB, que “pediu” à família de Lula a devolução dos passaportes. Ora, pro diabo com essa subserviência! Alguém “pediu” que Collor deixasse o Planalto? Não! Ajuizaram um processo de impeachment, como manda a Constituição e as leis do país. Por que essa benevolência com Lula e sua patota, como se todos não passassem de uma simpática Família Buscapé, que, “tadinha”, merece sempre uma passadinha de mão na cabeça?
A verdade é que vemos o enésimo episódio de assalto às instituições e vilipêndio da ordem democrática, sempre em benefício dos detentores do poder. “Todos são iguais, mas uns são mais iguais que outros”, como afirmei ao início, referindo-me à frase de Orwell. Lula pede que o Itamaraty afronte as lei – e a moral -, e prontamente, tal qual um cãozinho que abana o rabo espevitado para o dono, os burocratas pagos para servir o povo cuidam de servir os “cumpanhêros”. São a metáfora perfeita para aquele banquete dos porcos, que encerra o livro magistral de Orwell.
Yashá Gallazzi
Publicado no blog próprio “Construindo pensamento”
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