A ativista iraniana Mina Ahadi participou do 2o Fórum Democracia em Liberdade, realizado pelo Instituto Millenium, no dia 3 de maio, em São Paulo. Ela concedeu entrevista especial à revista “Época.”
A porta-voz da iraniana que pode ser executada por apedrejamento pede que Dilma Rousseff critique abertamente o regime de Mahmoud Ahmadinejad.
Por Juliano Machado
A onda de manifestações contra as ditaduras árabes tirou dos holofotes internacionais o caso de Sakineh Mohammadi Ashtiani, a iraniana de 43 anos que pode ser executada por apedrejamento sob a acusação de adultério e participação na morte do marido. Sua compatriota e presidente do Comitê Internacional contra o Apedrejamento, Mina Ahadi, tenta impedir que Sakineh seja esquecida. Mina chega ao Brasil nesta semana para participar do 2º Fórum Democracia e Liberdade, em São Paulo, na terça-feira. Ela disse a ÉPOCA que quer se encontrar com a presidente Dilma Rousseff e cobrar dela mais dureza contra o regime iraniano. “Até agora ela tem uma política melhor que a de Lula, mas pode fazer mais.”
Entrevista – Mina Ahadi
QUEM É
Nascida em Abhar, no Irã, Mina Ahadi tem 54 anos. Casada pela segunda vez (o primeiro marido foi condenado à morte no Irã), tem duas filhas. Vive em Colônia, na Alemanha.
O QUE FAZ
Preside o Comitê Internacional contra o Apedrejamento. É integrante do banido Partido Comunista do Irã e fundou um conselho para ex-muçulmanos na Alemanha
ÉPOCA – Como está Sakineh na prisão? A senhora consegue falar com ela?
Mina Ahadi – Não. Meu trabalho é muito vigiado, e mesmo os parentes dela temem falar comigo. Mas sei, por eles, que Sakineh sofre de depressão, pois não sabe, afinal, o que vão fazer com ela. Tem medo de ser executada. O regime disse que poderia ser libertada se ela colaborasse com a polícia secreta, mas Sakineh continua em perigo. A Justiça ainda não suspendeu a sentença de apedrejamento. O processo está como nos primeiros dias. Então, tudo é possível. Eu temo por ela porque todas as ações mundo afora ainda não foram capazes de salvá-la.
ÉPOCA – A senhora acha que Sakineh foi esquecida pela mídia, especialmente depois dos levantes no mundo árabe?
Mina – Sim. Hoje pouco se fala sobre ela. Isso é um problema. Ela não pode ser esquecida. Mas as revoluções árabes podem ser uma grande ajuda para Sakineh. É um movimento contra governos ditatoriais, contra as violações a direitos individuais. Os iranianos aprenderam muito com esses levantes, e esperamos que isso leve à queda o regime no Irã.
ÉPOCA – A presidente Dilma Rousseff já afirmou que não vai tolerar “práticas medievais”, como o apedrejamento. A senhora acha que ela pode ajudar na libertação de Sakineh?
Mina – Dilma até agora tem uma política melhor que a de Lula, mas pode fazer mais. Pode ajudar mais ativamente as mulheres e outras vítimas do Irã. E pode também criticar pública e abertamente o regime iraniano. Há mais de 30 anos pessoas são apedrejadas, e mulheres não têm direitos. Mesmo assim, Lula chamava Ahmadinejad de amigo e nunca disse uma palavra sobre as barbaridades do regime. Tenho mais esperanças com Dilma. Pedi à organização do fórum para falar com ela (o governo confirmou apenas uma audiência com a ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário). É uma boa oportunidade de informá-la sobre o que acontece com as mulheres no Irã. Os brasileiros têm de nos ajudar a construir um futuro secular.
ÉPOCA – O caso de Sakineh é o mais famoso internacionalmente, mas quantos outros estão na mesma situação dela no Irã e em outros países?
Mina – Temos uma lista, organizada pelo próprio Comitê contra o Apedrejamento, de 150 homens e mulheres que já morreram apedrejados no Irã. Hoje há 24 mulheres e dois homens que correm o risco de ser executados dessa maneira no país. Não temos informação precisa sobre casos de apedrejamento nos outros países, como Afeganistão, Paquistão, Iraque, Sudão, Nigéria e Emirados Árabes. Mas o Irã é o mais agressivo na determinação dessa sentença. Nossa luta no caso de Sakineh ao menos serviu para mostrar ao mundo o horror do apedrejamento. Um dia vamos pôr fim a isso.
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