Levantaria o punho com frequência enquanto gritaria com sua voz altissonante e com o rosto avermelhado frente a quem o contrariasse. Assim seria o jornal Granma se um sopro de vida o convertesse em pessoa; se um raro feitiço fizesse com que seu corpo de papel oficial se tornasse de carne e osso. Vestiria camisas quadriculadas, exibindo com orgulho as dobras endurecidas da sua roupa, conseguidas com aspersões sucessivas de amido. O diário do único partido permitido em Cuba teria uma idade indefinida e uma mentalidade do século dezenove, mostrando suas medalhas, falando o tempo todo de proezas que provavelmente nunca realizou. Não escutaria os outros porque sua peroração interminável asfixiaria a crítica, as idéias opostas e as mínimas insinuações de diferença. Comportar-se-ia como um homem mal humorado que já não conversa nem sequer com seus próprios filhos e que viu sair do seu lado todos os que amou uma vez.
Granmna, como alguns que conheço, desviaria o rosto se alguém próximo comprasse um pouco de comida no mercado negro. Contudo, rasparia o seu prato até o fundo sem perguntar de onde saiu o pedaço de batata ou a rodela de pão que estava sobre a mesa. Seus editoriais de letras grossas se transformariam em gritos, em palavras de ordem vazias gritadas quando sabia que os vizinhos o estavam escutando. Apelaria – frequentemente – a delação e a intriga. Suas chatas reportagens triunfalistas se transformariam em frases de conformismo ditas ante os rostos desesperados dos que o rodeiam. O mesmo diário que até o dia de hoje nunca publicou uma foto colorida, daria um ser cinzento de plástica sombria e ira irrefreável. Sorveria as pequenas ilegalidades da sobrevivência e as denunciaria com a mesma violência com que agora se publicam ataques e mentiras em suas páginas.
O “companheiro” que o Granma encarnaria seria desses seres humanos que – eu não sei vocês – nunca convidaria para passar na minha casa.
Traduzido por Humberto Sisley de Souza Neto
Publicado em “Generación Y“
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