O país vive um momento de perplexidade. O crescimento diminui, o déficit público cresce e a inflação sobe. Os planos para construir uma nação mais inclusiva estão sendo postergados.
Na ausência de liderança política, decisões imperativas estão suspensas ou adiadas. A economia tem sofrido e a propaganda dos sucessos dos últimos anos disfarça as fraquezas reais.
A mudança da percepção externa e o pessimismo que se amplia sobre o país não levam em conta algumas de suas reais forças. A expansão de mercado interno, o vigor das empresas privadas, o fato de o Governo ainda ter muita margem de manobra e o otimismo e a confiança existente entre os que compõe a crescente classe media seriam pontos positivos.
O país tem todas as condições de entrar para o grupo dos pesos pesados da economia mundial. As projeções de crescimento de 5%, contudo, não se materializaram.
Em meados dos anos 90, o país se modernizou e uma série de medidas foram adotadas para reduzir os controles sobre a iniciativa privada e para gradualmente integrar o país na economia global, racionalizar sua estrutura tributária e oferecer um marco regulatório transparente.
O compromisso do governo no tocante ao crescimento que poderia beneficiar em muito a população tem sido inconsistente. A crescente presença do Estado começou a erodir o frágil consenso sobre o capitalismo e fez reaparecer a antiga associação entre capitalismo e corrupção.
Os gastos públicos aumentaram, mas devido a ineficiência e a corrupção, a maior parte dos recursos nunca chegaram aos setores que dele deveriam se beneficiar.
O sistema político está profundamente fragmentado, o que tornou o consenso difícil de ser alcançado. Por exemplo, a reforma tributária está paralisada há muitos anos. Além disso, uma série de escândalos está pondo a prova a integridade das instituições, como a Justiça e o Congresso.
A principal causa que explica essa disfunção é a política de coalizão. O maior partido abdicou de sua obrigação de tentar superar as dificuldades da politica doméstica e deixou de exercer o papel de liderança que dele se esperava.
Qualquer semelhança com um pais que conhecemos é mera coincidência. Se o leitor pensou que a descrição feita diz respeito ao Brasil, está sendo muito pessimista… A situação econômica descrita se refere a Índia, e resume em larga medida de forma literal artigo publicado na Foreign Affairs por Pratap Mehta.
Tanto na India quanto no Brasil, o grande desafio é superar o imobilismo e aprovar mudanças econômicas. Trata-se da superação das dificuldades politicas internas para aumentar a competitividade e a produtividade do pais.
Talvez se possa dizer dos indianos o que dizia Nelson Rodrigues: “O que atrapalha o brasileiro é o próprio brasileiro”.
Fonte: O Globo, 11/06/2013
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