Sílvio Guedes Crespo
A revista britânica “The Economist” publicou uma reportagem sobre o mercado de crédito no Brasil, em um momento em que o governo continua estimulando empréstimos apesar do aumento recente da inadimplência e do nível de endividamento das famílias.
Para a publicação, o crédito no Brasil parece estar menos “efervescente” e mais “assustador”. No entanto, o semanário avalia que “ainda” não há motivo para pânico.
É verdade que o crédito equivalia a cerca de um quarto do PIB (produto interno bruto) do País em 2003 e atualmente já responde por metade da economia. No entanto, os empréstimos imobiliários, de longo prazo, correspondem a apenas 5% do PIB. Esse tipo de concessão quadruplicou desde 2005, mas partindo de uma base muito baixa.
A revista ouviu um consultor da Capital Economics sobre o assunto. Ele calcula que seria necessário que todos os tomadores de empréstimo imobiliário dessem calote para que o chamado capital Tier 1 dos bancos caísse para um nível abaixo de 6%, o mínimo estipulado no acordo de Basileia 3.
O capital Tier 1 se refere à proporção de ações e lucros retidos de um banco em relação ao total de ativos. Em outras palavras, é a proporção de capital considerado de alta qualidade que uma instituição financeira deve ter. Trata-se de um indicador da solidez de um banco.
Basileia 3 é o nome dado a um acordo internacional assinado em 2010 com o objetivo de tornar mais rígida a regulação. Foi uma reação à crise financeira de 2008. No total, 27 países participam do comitê de Basileia, nome da cidade suíça onde o acordo é fechado.
Ainda, o baixo desemprego e a ainda crescente renda da população são mais dois argumentos apresentados pela Economist para sustentar a tese de que não há motivo para pânico.
A preocupação da revista é de que o crédito não continuará crescendo no mesmo ritmo verificado nos últimos anos porque as famílias já estão endividadas e porque os bancos, com o aumento da inadimplência, ficarão mais seletivos.
Pelo fato de a expansão dos empréstimos ter sido um dos motores do crescimento do PIB em anos anteriores, o semanário acredita que a freada no crédito será agora um dos dos motivos da desaceleração econômica. “Como nem os emprestadores nem os mutuários estão propensos a aumentar muito a concessão ou tomada de crédito, o maior efeito da longa farra de crédito que durou uma década será uma ressaca na economia real”. Outra possível consequência, na opinião da Economist, será o aumento da participação dos bancos públicos no mercado de crédito, uma vez que o governo determinou que essas instituições facilitassem as concessões de empréstimos.
Fonte: “O Estado de S.Paulo”
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