O Instituto Millenium está de olho nos impostos na volta às aulas e não está sozinho. O site “Opinião e Notícia” entrevistou o consultor financeiro Vítor Wilher, nosso especialista, para saber quanto os impostos que incidem sobre o material escolar pesam na renda das famílias, que estão apenas começando o ano e ainda vão pagar muitos outros impostos neste País.
Leia na íntegra a entrevista
Volta às aulas: especialista dá dicas sobre como sair do vermelho
As despesas de janeiro e a voltas às aulas podem desequilibrar o orçamento. Saiba como pagar as contas e quanto a educação dos filhos pode pesar no seu bolso em 2011
A preparação dos pais para a volta às aulas envolve paciência e contas extras. Até o primeiro dia de aula, eles precisaram enfrentar as lojas lotadas e filas gigantes para dar conta da “quilométrica” lista de material escolar. Isso, sem esquecer de pagar matrículas e mensalidades da escola e dos cursinhos, em pleno mês de janeiro, o mais apertado do ano, quando chegam IPVA e IPTU para quitar. A saída para muitos é entrar no cheque especial ou pagar tudo com cartões de crédito. No fim do mês, fatalmente o orçamento familiar está no vermelho.
Para sair deste cenário, a ajuda de um consultor financeiro pode fazer a diferença. O Opinião e Notícia entrevistou o economista Vítor Wilher, especialista do Instituto Millenium, que dá dicas sobre como equilibrar o orçamento familiar, diante das despesas extras de janeiro e do custo da educação das crianças para o bolso do consumidor. Além disso, fala sobre um dos vilões do orçamento, os impostos que engrossam as contas, principalmente, as típicas de volta às aulas.
Opinião e Notícia – Qual é peso do material escolar nas contas de janeiro?
Vítor Wilher – Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio, os gastos com educação, como mensalidades, material escolar, matrícula e uniforme, devem alcançar, em média, 7,2% do orçamento familiar nesse início de 2011. Para ilustrar, uma família que tenha dois filhos, com idades entre 6 e 12 anos, matriculados em uma escola particular, chega a gastar com material escolar, incluindo livros, R$ 1500. Para uma família com renda máxima de R$ 5 mil — pelos dados do IPEA, esse seria o teto da classe C, a “nova classe média” e que abrange 90 milhões de pessoas –, estamos falando de 30% do orçamento comprometido somente com material escolar.
O&N – Quais as melhores opções para equilibrar o orçamento para quem entrou no vermelho em janeiro?
Wilher – Para quem já entrou no cheque especial ou no cartão de crédito para pagar material escolar, IPTU e IPVA, por exemplo, o mais racional a fazer é trocar dívidas. No cheque especial e no cartão paga-se, em média, 8% a 14% de juros por mês. É muito caro! Existem formas melhores de financiar essa dívida, tais como Crédito Direto ao Consumidor (CDC) ou mesmo o Consignado, o mais barato atualmente, que em alguns bancos tem juro de 1,5% ao mês. Feito isso, o próximo passo é cortar supérfluos, como o restaurante de final de semana e a pizza de domingo. Esses gastos, apesar de quase ninguém notar, chegam a representar até 20% do orçamento familiar.
O&N – Se tiver que escolher, quais contas deve-se pagar primeiro?
Wilher – Se mesmo assim, com a troca de dívida e redução de gastos extras, você não conseguir pagar todas as contas, pague as contas cuja multa e juros são maiores. Caso não dê para pagar o IPTU de uma só vez, opte pelo parcelamento anual: será mais suave pagar em doze parcelas do que em uma vez. O mesmo para o IPVA, se o seu estado permitir parcelamento. Além disso, existem contas com multas e juros muito pequenos, então se estiver apertado, deixe essas por último. Nunca deixe de pagar cartão de crédito e cheque especial porque acaba virando uma bola de neve e você fica a um passo de entrar nos cadastros de inadimplência.
O&N – Quanto a educação das crianças pesa no bolso?
Wilher – Segundo a FGV, as famílias gastam, em média, 13% do orçamento familiar com a educação dos filhos em escolas particulares. Quanto menor a renda familiar, maior o peso da educação privada nos respectivos orçamentos. Para se ter uma ideia, até o 5º ano do ensino fundamental, as mensalidades giram entre R$ 200 e R$ 600; já no restante do ensino fundamental, a mensalidade média fica em torno de R$ 400. No ensino médio, entre R$ 400 e R$ 600. Isso, claro, em escolas de nível intermediário. Escolas privadas de ponta custam até R$ 2 mil, estando fora da renda média brasileira. Para uma família com dois filhos, um no 5º ano e outro no ensino médio, cuja renda total não ultrapasse aqueles R$ 5 mil, o peso total da educação pode chegar a 25%, bem distante, portando, daquela média de 13%.
O&N – Os impostos ajudam a engrossar as contas. Quanto o consumidor paga de tributação nas mensalidades e no material escolar?
Wilher – Em média, incide 26% de impostos no valor das mensalidades, que são naturalmente repassados aos pais. Há ainda a questão da “bi-tributação”, já que o cidadão paga imposto para ter uma escola pública e a mensalidade em um colégio privado. A inexistência de uma escola pública básica de qualidade gera uma escola privada de péssima qualidade com custos elevados para o consumidor e com tributação excessiva. O custo do material escolar também seria atenuado se a carga tributária que incide sobre ele fosse menor. Um apontador, uma borracha ou uma régua têm embutidos mais de 40% de imposto.
Saiba aqui quanto você paga de imposto no material escolar
O&N – Como fugir do vermelho em 2012?
Wilher – A receita é simples e todo mundo sabe: planejamento. Abra uma planilha no computador a partir de fevereiro de 2011. Coloca lá receita e despesas. No campo despesa, separe as despesas fixas — aluguel, telefone, luz, supermercado, mensalidade da escola — das despesas extra — cinema, chope com os amigos, compras no shopping. A partir disso, você terá a exata dimensão de quanto representam no seu orçamento as tais despesas extras. Ficará espantado em quanto elas representam. A maioria dos endividados — os que entraram no SPC/Serara– não entram por conta das despesas fixas, mas sim pelas extras. Tendo essa noção, faça cortes graduais: um mês corte o cinema, alugue um filme; no outro mês corte as idas ao shopping e assim sucessivamente. Em seis meses você perceberá que sobrou algum dinheiro para investir: é o momento de pensar em janeiro de 2012. Guarde esse dinheiro para as emergências. Alguns economistas falam em guardar o 13º para esse tipo de dívida, mas eu acho praticamente impossível, naquele clima de festa, alguém pensar em janeiro do próximo ano. As pessoas querem comprar presente, viajar e comer em bons restaurantes. Ninguém lembra que em janeiro tem um monte de contas para pagar. Portanto, acho que o melhor remédio é o planejamento de médio prazo.
O&N – Como economizar nas compras de material escolar?
Wilher – Pesquisar. A diferença de preço entre uma papelaria e outra é absurda: pode chegar a 400% em alguns produtos. É muita coisa. Além disso, uma nova moda que tem tomado conta do mundo são as compras coletivas. Se você conhece outros pais de alunos, converse com os mesmos. Peça uma lista à diretora da escola, se você não conhece. Se, por exemplo, você conseguir 20 ou 30 pais que possuem as mesmas necessidades que as suas (as listas escolares) é um excelente poder de barganha que você terá nas mãos. Outra dica é negociar com o vendedor: “Filho, eu quero 40 borrachas do tipo X, você me oferece quanto de desconto em cada uma?”. Com toda a certeza, ele lhe dará um bom desconto. Um número bom é 20%. No fim das contas, 20% sobre R$ 1500 é um belo desconto, não?
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