Antes de iniciar este texto, destaco que não se trata de uma indicação de carteira de investimento, e que todas as informações aqui apresentadas devem ser levadas para uma reflexão dentro da realidade de cada investidor. Uma verdade incontestável de mercado é que “o passado sempre nos ensina que o futuro pode nos surpreender”.
Após os avisos iniciais, vamos a algumas análises e previsões para o período do próximo governo.
De acordo com o Relatório Focus, do Banco Central, temos uma previsão de crescimento de PIB menor que 1% para o próximo período, o que nos diz muito sobre o poder de compra esperado, mesmo com o reajuste do salário mínimo sendo maior do que nos últimos anos. Claro que isso está diretamente relacionado com o cenário de inflação, que, de acordo com este mesmo relatório, deve crescer mais de 5%, no mesmo período. Quando olhamos esses pontos e somamos com a previsão da taxa Selic se manter acima dos dois dígitos (ficando entre 12% e 15%), podemos esperar uma retração do mercado, quanto ao risco em geral.
Quando olhamos para o Plano de Governo da gestão Lula, observamos um forte incentivo para negócios relacionados a micro e pequenas empresas, como por exemplo o item 88, que promete facilitação do crédito e a superação de burocracias. Temos também uma filosofia de governo voltada para a facilitação de abertura de empresas, o que é reforçado pelo dado apresentado pelo Ministério da Economia, sobre o tempo médio de abertura de uma empresa no Brasil, que reduziu em 78% desde 2019. Isso além de uma redução na arrecadação de impostos para pequenas empresas com a isenção do imposto de renda para remunerações abaixo de 5 mil reais mensais. Vale ressaltar que há uma citação neste plano sobre a maior taxação dos chamados “Super Ricos”, a fim de balancear a conta da arrecadação de impostos.
Com isso, temos um cenário geral direcionado para os investimentos de renda fixa, reforçando seu lado conservador, que podem dar preferência a títulos públicos ou opções com remunerações baseadas na Selic, como CDI, Fundos DI e Tesouro Direto, reduzindo bastante o interesse em renda variável, como bolsa de valores e ativos de Venture Capital (Capital de Risco).
Já para os investidores com um apetite maior ao risco, temos um cenário ideal para a compra de criptoativos e investimento em startups de certos segmentos, descritos um pouco mais à frente, ambos focando no longo prazo.
No cenário dos criptoativos, tivemos uma redução considerável de valor nos últimos anos, com o exemplo da Bitcoin (BTC) que fechou 2022 com uma queda de valor de quase 67% ao ano. Em contrapartida, a Bitcoin (BTC) e a Ethereum (ETH) nunca estiveram tão estáveis no quesito tecnológico, o que mostra uma forte tendência de recuperação para os próximos anos, configurando um momento “barato” para a compra de ativos dessa categoria, focando no retorno de longo prazo.
Já no cenário das startups, tivemos uma redução considerável nos aportes em 2022, comparando com 2021 (quase 50% no volume total de acordo com o relatório da CrunchBase), o que traz como consequência a redução dos valuations (valor da empresa) propostos pelas startups. Uma vez que há uma menor disponibilidade de capital, isso gera escassez e aumenta a necessidade, lei básica de oferta e demanda. Somado com o fim do período de startups com seus valores inflados e seus planos supervalorizados, isso resulta em uma diminuição considerável de aberturas de capital em 2022 frente a 2021, fechando o ano com 45% a menos de IPOs (Initial Public Offering), de acordo com o relatório da Consultoria EY. Com isso em mente, os planos do Governo Lula nos indicam uma boa oportunidade para o investimento em startups nos setores de Fintechs e Retail Techs. Também empresas com modelos de negócios focados em SaaS (Software as a Service) ou ESG (Environmental, Social, and Corporate Governance).
– Fintechs (Financeiro) – Com as políticas de facilitação de crédito e redução de burocracias, torna fértil o terreno para o mercado de empréstimos e acesso ao capital. Aumentando o interesse na capitalização das pequenas empresas para expandir seus negócios sem a preocupação de juros muito altos.
Retail Techs (Varejo) – Apesar de termos uma projeção pessimista quanto ao PIB e a inflação, o que nos mostra uma redução natural do poder de compra, podemos observar uma forte inclinação nas pautas do plano de governo para aumentar o consumo, trazendo pontos a respeito de facilitação de crédito, redução ou isenção de impostos e aumento no salário mínimo. A facilitação do processo de compra abre um cenário muito positivo para as startups desse setor, que trazem soluções voltadas justamente para esses pontos.
– SaaS (Software as a Service) – São as empresas voltadas ao desenvolvimento do software como produto final. Soluções muito utilizadas pelas pequenas empresas, principalmente focadas na terceirização de parte da sua operação, uma vez que não há disponibilidade muito grande de capital para contratação de times.
– ESG (Environmental, Social, and Corporate Governance) – São empresas com o foco no impacto social, ambiental e governança corporativa. Dentro do plano de governo da atual gestão, vemos diversas pautas voltadas para a sustentabilidade ambiental e impacto social, criando incentivos para o desenvolvimento de negócios nessa área. A Governança estruturada foi uma das principais pautas de grandes fundos nos últimos investimentos, uma vez que esse foi um dos principais problemas enfrentados pelas grandes startups nos últimos anos.
Para investidores que querem começar a se aventurar nesse mercado de investimento em startups, as plataformas de Crowdfunding (Investimento Coletivo) são boas opções, funcionando como uma forma de diversificação de carteira e experiência de mercado, uma vez que tivemos uma forte alteração feita pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) na lei que regula tais plataformas, a ICVM nº 588, visando maior transparência e conforto para o investidor.
* Em coautoria com Aline Freitas (Gestora de Investimentos da Booming)