O PIB teve uma queda histórica no terceiro trimestre deste ano: 9,7% de retração, em relação ao trimestre anterior – a maior da série histórica, desde 1996. A pandemia do novo Coronavírus, que desligou a economia “na tomada”, é considerada a principal responsável pelo tombo. Mas, de acordo com o economista Roberto Luís Troster, há outros fatores, como o baixo crescimento registrado no ano passado, o piso histórico em investimentos, a inadimplência de pessoas física e jurídica, o recorde de alta nos registros de crédito e a elevação da dívida pública. Ouça o podcast!
A pandemia também contribuiu para o cenário negativo. “Demoramos muito para reagir, os países que reagiram mais rápido tiveram perdas menores do PIB. No começo da pandemia você tinha um debate ou salvava a vida ou a economia. Na verdade os números mostram agora que quem cuidou da saúde das pessoas, foi também quem cuidou da saúde da economia”, afirmou.
Os impactos gerados nesse momento de fragilidade, segundo Troster, vão variar de acordo com cada realidade, porque a crise também trouxe benefícios para alguns setores. “Eu não vejo quem trabalha com delivery reclamando da pandemia. Já o setor de turismo e hotelaria, ou até muitos bares e restaurantes, estão fechando as portas”, apontou.
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Para o economista o importante agora é olharmos para frente e repensarmos urgentemente em três pontos que atravancam o crescimento econômico: canais de crédito, burocracia e impostos.
“A intermediação do crédito no Brasil é ruim, a relação crédito-PIB é de 50%, em outros países com o mesmo perfil do Brasil é de 120%. Essa diferença é grande, porque somos o único país do mundo que tributa o crédito, um resquício da inflação elevada, e também temos restrições de liquidez muito altas, o redesconto que não opera, não temos regras de precificação claras. Então o crédito que podia ser um propulsor, acaba virando uma âncora para a economia’, disse.
Quanto a burocracia e impostos, Roberto Troster, cita o ranking feito esse ano pelo Banco Mundial, no qual o Brasil ocupa a 124ª posição, dos 190 países classificados em facilidade de ser empresário. “Com isso as empresas brasileiras vão produzir no exterior. Dizem que 7 a cada 10 novas empresas no Paraguai são brasileiras. Não faz sentido, nós estamos exportando postos de trabalho e importando bens de serviços”, afirmou.
Agro evitou uma queda ainda maior
Em oposição à retração do PIB e crise econômica, o agronegócio se manteve ileso e apresentou crescimento. De acordo com o professor e especialista em marketing do agronegócio, Jose Luiz Tejon, este é um respiro para o momento atual, mas ainda não é possível fazer previsões.
“Estamos plantando com dólar alto, nem todos compraram com o melhor preço, estamos entrando numa safra nova com custo de dólar alto para uma perspectiva de colheita que ninguém pode saber o que vai acontecer. Nesse momento estamos salvos pelo agronegócio, da agropecuária, com industrial que tem agregado valor nele.Proteína animal passa por frigorífico e por indústria, cana de açúcar passa por indústria. Porém, falar do ano que vem é muito incerto, nós estamos hoje com crescimento de preços no mercado interno”, disse.
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Como solução, Luiz Tejon aponta a reforma tributária como ponto principal e recomenda menos euforia e mais pedagogia a todos os responsáveis. “Daqui para frente precisa ter reforma tributária, não dá pra segurar esse assunto tendo imposto em alimento, tem um estudo da ABIA (Associação Brasileira da Indústria da Alimentação), mostrando que esse setor tem um imposto de 23%, que segundo eles, só é menor que o da Dinamarca. A agropecuária brasileira, que vem sendo trabalhada há muito tempo com consciência e tecnologia, nos deu folego, porém daqui pra frente é preciso planejamento estratégico de todas as cadeias produtivas e necessariamente fugir da vontade de colocar imposto”, destaca.