É um assunto, ou um escândalo, que está aí quase todos os dias. “Querem abafar a Lava-Jato”. Quem poderia duvidar? Só faltava, realmente, que políticos, altas autoridades e mais o resto da manada que faz, interpreta e aplica as leis nesse país estivessem decididos a apurar rigorosamente toda a ladroagem dos últimos governos e punir exemplarmente os culpados, como se diz em 100% dos discursos. Querem o exato contrário disso, é claro. É o que nos dizem, como se todo mundo já não estivesse cansado de saber, dois ou três ministros do Supremo Tribunal Federal, o procurador-geral que está saindo e a procuradora-geral que está entrando, promotores públicos, gente do mundo descrito como artístico, pensadores políticos e por aí afora. Até o corruptor confesso número 1 do Brasil, Joesley Baptista, faz parte desta vanguarda. Anda tão preocupado com a impunidade para os investigados pela Lava-Jato que decidiu “contar tudo” aos inquisidores top de linha de Brasília. Conseguiu, até agora, a impunidade para si mesmo e o papel de herói da resistência à corrupção no noticiário político da Rede Globo.
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Não faltam, portanto, combatentes em favor da Operação Lavo-Jato, doa a quem doer. Já bem mais difícil é entender os critérios que determinam quem está e quem não está na Operação Abafa. Sabe-se, pelo que é repetido todos os dias, que o governo em peso, sua base aliada e o ministro Gilmar Mendes, hoje o maior aplicador da lei (e das infinitas possibilidades do direito de defesa) em atividade no Brasil são os principais abafadores. Curiosamente, muito pouco se fala das posições dos seus colegas de STF. Será que são marechais-de-campo da Lava Jato e vão confirmar o grosso de suas condenações? Mais curioso ainda é saber onde se encaixam Lula, o PT e seus admiradores nessa história. Os senadores do partido, entre outros feitos de armas, assinaram um pedido de processo contra o juiz Sérgio Moro – ou, seja, querem punir quem julga, e não quem está sendo julgado. O juiz e os procuradores da Lava Jato são insultados todos os dias pela corte política do ex-presidente – canalhas, fascistas, torturadores, agentes do FBI e daí para pior. A presidente do partido, que por sinal é ré em ação penal por corrupção na Lava-Jato, diz que tudo é um “processo político”. Lula, em seu mais recente manifesto sobre o assunto, disse que os meninos da Lava-Jato – imagina-se que sejam o juiz Moro e os procuradores, pois não foi oferecido nenhum nome nessa grave denúncia – “têm responsabilidade” na morte de sua mulher Marisa, vítima de um AVC em fevereiro de 2017. Estariam contra ou a favor da Lava-Jato? Ainda não decidiram, ao que parece.
Fonte: “Veja”, 28/08/2017
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